Título: Roriz trabalha para voltar em 2010
Autor: Eruza Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2006, Brasília, p. D3

A decisão do governador Joaquim Roriz (PMDB) de permanecer à frente do Palácio do Buriti até o dia 31 de dezembro mostra o seu apreço pelo Executivo. No xadrez político que envolve a sucessão ao mais alto posto do governo do Distrito Federal, a estratégia é armar as peças para dar um xeque-mate em 2010. Na inauguração de duas obras na semana passada, Roriz deu os primeiros sinais de que pretende voltar a comandar a capital da República. ¿ Algumas obras devem ficar para daqui a quatro anos. Não há nada certo. Tudo é possível ¿ disse o governador, quando foi questionado sobre o seu futuro.

Apesar de ser conhecido pelo destempero verbal e pelo estilo paternalista, Roriz quer evitar ruídos dentro do próprio governo, pois tem consciência de que cada movimento é um desafio. Antes de anunciar o nome do candidato que irá apoiar, aguardará o resultado da verticalização, regra que determina a repetição de alianças partidárias nacionais nos estados e municípios.

¿ O governador tem cacife histórico para tentar voltar. Aliás, ele já agiu de forma semelhante há 12 anos. Pelos sinais que tem dado ultimamente é o que realmente deseja fazer ¿ disse a líder do governo, Eliana Pedrosa (PFL).

Foro íntimo Não é primeira vez que Roriz fala em ficar no governo. Em 1994, no final do segundo mandato, resolveu apoiar a campanha de Valmir Campelo (PTB) ao Buriti. O colega acabou sendo derrotado por Cristovam Buarque (PT). A saída da vida pública levou o governador à depressão. Tudo porque estava afastado da tradicional política clientelista.

¿ Roriz já repetiu várias vezes que não vai tentar o Legislativo. Além de ter dificuldade de largar o poder e ciúme das obras, é um administrador que centraliza tudo e não tem paciência para ficar sentado discutindo e articulado política, como ocorre no Parlamento ¿ disse uma figura carimbada do seu governo. Para o presidente regional do PFL, Paulo Octávio, a decisão do governador é pessoal. Defensor da volta do governador em 2010, o pefelista pediu na tribuna do Senado para que Roriz continue na vida pública. O PMDB também entregou uma moção com o mesmo teor.

Os apelos ainda não sensibilizaram o chefe do Executivo. A postura de se manter em silêncio, dizem aliados, é uma maneira de incentivar o racha no PFL, que hoje tem dois pré-candidatos fortes ¿ senador Paulo Octávio e o deputado federal licenciado José Roberto Arruda ¿ na corrida ao Buriti, para ter o caminho livre no futuro.

¿ O governador, depois de 14 anos à frente do GDF, se sente dono do cargo. É natural que tenha dificuldades em dividir o poder. Afinal, entende que a sua biografia está ligada à história de Brasília. O desejo de retornar ao posto é complicada por causa da idade e do problema de diabetes. Não terá mais pique para fazer campanha ¿ disse uma pessoa próxima a Roriz.

A despedida da carreira política, para o governador, é sinônimo de aposentadoria, uma palavra que foi retirada do seu vocabulário.

Trajetória - Em 40 anos de vida pública, Roriz passou pelo Legislativo como vereador de Luziânia (GO), sua cidade natal, no início da carreira. O pontapé o motivou a conquistar outras experiências, entre os quais o mandato de deputado estadual e, em seguida, federal. Os cargos serviram para ganhar visibilidade.

A passagem relâmpago pela prefeitura de Goiânia, em 1987, foi uma ponte para ocupar o cargo de governador do Distrito Federal, pela primeira vez. De 1988 a 90, Roriz comandou a capital da República devido à indicação então presidente José Sarney. A oportunidade consolidou o eleitorado para o pleito de 1990. Em 1998, o maior cabo eleitoral do DF venceu a eleição no DF Cristovam Buarque e, em 2002, consegui o quarto mandato derrotando o petista Geraldo Magela. As duas disputas foram acirradas e a vitória do peemedebista veio apertada depois das apuração das últimas urnas eletrônicas.