Título: Caciques do PMDB ameaçam ir à Justiça
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 14/03/2006, País, p. A2

Às vésperas de definir o candidato à Presidência da República, o PMDB caminha para uma ruptura irremediável. Frustradas as tentativas de acordo, os chamados governistas do partido resolveram desencadear, ontem, uma pesada articulação em busca dos votos necessários para o adiamento das prévias do partido, marcadas para domingo.

Como último recurso, a ala liderada pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (AL), e pelo líder do partido no Senado, Ney Suassuna (PB), admite, inclusive, recorrer à Justiça, a fim de inviabilizar a consulta. Um pedido de liminar já estaria sendo redigido para ser apresentado até sábado.

Ontem, enquanto o presidente do partido, Michel Temer (PMDB-SP), reafirmava a candidatura própria e realizava o sorteio da ordem dos nomes de Anthony Garotinho e Germano Rigotto na cédula de votação das prévias, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), o líder do partido no Senado, Ney Suassuna (PB), e o senador José Sarney contabilizavam os votos favoráveis à tese do adiamento.

Até o início da noite, a ala de Renan dizia ter as seis assinaturas (um terço da Comissão Executiva) necessárias para a convocação da reunião. Mas ainda precisam de assegurar maioria de nove dos 16 votos da Executiva para adiar as prévias.

Interessados na liberdade para celebrar alianças nos estados, Renan e Suassuna tentam convencer a maioria da Executiva a adiar as prévias até a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a verticalização.

O argumento carrega um viés pragmático. Como o PMDB tem pelo menos 15 candidatos a governos estaduais em condições de vencer as eleições, e trabalha com a perspectiva de fazer uma portentosa bancada de 105 deputados e 25 senadores, a maioria dos caciques da legenda prefere não se comprometer no plano nacional para ficar livre, e se aliar com quem bem entender nos estados.

O presidente do partido, Michel Temer, tem um entendimento oposto. Para ele, a candidatura própria irá reforçar os palanques estaduais do PMDB, fazendo com que a legenda tenha possibilidade de eleger uma bancada maior.

- O PMDB precisa assumir uma identidade nacional - afirmou pouco antes do sorteio que definiu o governador licenciado do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, como o primeiro nome na cédula de votação das prévias.

Hoje, na Executiva, estariam ao lado de Suassuna os deputados Jader Barbalho (PA), Geddel Vieira Lima (BA), Tadeu Fillipelli (DF), Dorany Sampaio (PE) e Monica Oliveira (CE). Como Suassuna, na condição de líder do partido, tem direito a dois votos, faltariam dois para adiar as prévias. Pairam dúvidas sobre os votos de Maguito Vilella (GO), Ramez Tebet (MS) e do líder na Câmara, Wilson Santiago (PB).

Até o início da noite, os governistas não haviam protocolado o requerimento pedindo a reunião da Executiva. À tarde, em conversa com integrantes da ala governista do partido, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) propôs uma saída de consenso. O partida realizaria as prévias no domingo, mas sem o compromisso da homologação da candidatura em junho. Ou seja, submeteria novamente a questão da candidatura própria ao partido após a decisão do Supremo sobre a verticalização. A crise de confiança que contaminou o partido inviabilizou o entendimento.

- Alguém acredita que, após as prévias, o vencedor vai querer recuar? - disse um parlamentar ligado a Renan.