Título: Sem nenhuma informação
Autor: Marcello Gazzaneo
Fonte: Jornal do Brasil, 14/03/2006, Rio, p. A7

Depois de 11 dias de buscas e 13 favelas ocupadas, o Exército admitiu, ontem, que o trabalho de inteligência para tentar localizar o armamento roubado do Estabelecimento Central de Transportes (ECT), em São Cristóvão, no dia 3, não vem dando os resultados esperados. Até o momento, os investigadores não conseguiram pistas que levassem aos 10 fuzis e a pistola 9mm roubados da unidade militar - só o Disque-Denúncia recebeu 872 informações sobre o caso até ontem à noite. - O trabalho de inteligência é fundamental, mas mesmo assim ainda não foi possível localizar as armas. Não temos dados de onde estão - afirmou o chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste (CML), general Hélio Chagas de Macedo Júnior, durante entrevista coletiva.

O oficial informou que as buscas vão continuar, apesar de nenhuma pista significativa ter aparecido. O Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para apurar o crime tem mais 50 dias para ser encerrado. Os militares, inclusive, já trabalham com a possibilidade de o armamento ter sido levado para fora do Rio ou estar espalhado por mais de uma favela na cidade. Ontem, as favelas do Dendê, na Ilha do Governador, e da Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, voltaram a ser ocupadas.

- É de se supor que possam estar em mais de uma comunidade. Também é possível que as armas, ou parte delas, já tenham saído do Rio. Os dados da inteligência não foram favoráveis até agora - admitiu o general.

Ele não soube dar detalhes das investigações, principalmente sobre a possível participação de militares ou ex-militares no roubo ao ECT. Integrantes da equipe que apura o crime trabalham com a informação de que um oficial da própria unidade teria planejado e facilitado o assalto. De acordo com o general, todos os militares que estavam de serviço no ECT, no dia do assalto, estão sendo ouvidos no IMP instaurado.

Até o momento, as ações levaram a polícia do Rio, que integra uma força-tarefa com o Exército, a fazer 228 apreensões de armas, 38 de drogas e mais 13 autos de resistência. Os dados foram divulgados, durante a coletiva, pelo secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, que não esclareceu se as apreensões ocorreram nas áreas ocupadas.

O trabalho de inteligência vai continuar norteando as ações das tropas nas ruas da cidade, garantiu o oficial. Ele negou, por exemplo, que as saídas dos soldados de alguns os morros ocupados, como a Providência, no Centro, onde houve quatro dias seguidos de confrontos com traficantes, fosse um erro de estratégia ou um recuo forçado.

- Vamos continuar ocupando todas as favelas que forem necessárias. Fizemos algumas retiradas, mas não podemos encará-las como fracassos. Na Providência, por exemplo, vamos voltar se for preciso - afirmou.

Ao mesmo tempo, o chefe do Estado Maior do CML admitiu que ''toda ação passa por uma avaliação''. Ele também reconheceu que o roubo das armas do ECT representa um desgaste para a imagem do Exército.

- Não sei como avaliar a ação. Seria ótimo se tivéssemos encontrado as armas. Continuamos perseguindo esse objetivo, mas considero a ação, até aqui, muito boa - disse o general.

De volta ao Brasil, o presidente Lula foi informando pelo ministro da Defesa e vice-presidente, José Alencar, que não houve recuo das tropas.