Título: Ciranda de juros no rotativo
Autor: Com Juliana Lanzarini
Fonte: Jornal do Brasil, 14/03/2006, Economia & Negócios, p. A17

As operadoras de cartão de crédito ignoraram a redução na taxa básica de juros promovida pelo Banco Central em janeiro. Os encargos cobrados por quem utiliza esta linha de financiamento permaneceram inalterados em 10,24% entre os dois primeiros meses do ano, apesar da queda na Selic de 18% para 17,25% no período, revela pesquisa realizada pela Associação Nacional de Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Os cartões cobram a segunda maior taxa do mercado (equivalente a 222,9% ao ano), atrás apenas dos empréstimos obtidos em financeiras, que custam 11,56% ao mês.

Em todas as outras linhas de crédito, houve redução nas taxas praticadas. Na média geral, as pessoas físicas estão pagando 7,54% ao mês em financiamentos, contra 7,58% no primeiro mês do ano. No empréstimo pessoal, a taxa caiu de 5,75% para 5,69% ao mês. No cheque especial, a taxa passou de 8,21% para 8,19% em fevereiro.

Para o coordenador da pesquisa da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, a redução das taxas de juros a um ritmo mais lento do que o da Selic pode ser atribuída à maior demanda por crédito no período para o pagamento de dívidas assumidas no Natal, compra de material escolar e impostos.

Já o Procon-SP identificou redução na taxa média praticada por três instituições: Caixa Econômica Federal (de 5,05% para 4,81% ao mês), Bradesco (de 5,77% para 5,71%) e HSBC (de 4,91% para 4,87%). A pesquisa foi realizada no último dia 3, nos bancos HSBC, Banespa, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Santander, Nossa Caixa, Real e Unibanco.

No empréstimo pessoal, a menor taxa foi encontrada na Nossa Caixa (4,25% ao mês). A maior foi verificada no Itaú (5,95% ao mês). No cheque especial, a menor taxa é da Caixa Econômica Federal (7,95% ao mês), enquanto Itaú e Santander cobram a maior (8,5% ao mês).

Com os juros caindo a ritmo ainda inferior à taxa Selic e com a expansão do crédito, cresce o número de endividados. Pesquisa realizada pela Fecomércio-RJ mostra que 18,1% dos cariocas estão com alguma prestação em atraso, contra 14,1% do mesmo período do ano anterior.

Segundo a diretora do Instituto Fecomércio-RJ, Clarisse Messer, os dados de endividamento de fevereiro indicam que os bancos devem acender uma luz amarela. Para ela, os bancos precisam ser mais cautelosos na hora de conceder crédito, diante do aumento na inadimplência.

- Até o fim do ano passado, eu não tinha qualquer preocupação a respeito do endividamento. Mas os dados de janeiro e, agora, de fevereiro mostram que é preciso que os bancos tenham mais cautela - disse. - Acredito que o crédito vai continuar crescendo, mas agora de uma forma mais lenta.