Título: Mais perdão à vista
Autor: Mariana Santos e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2006, País, p. A3
O Conselho de Ética vai votar hoje o parecer do relator Edmar Moreira (PFL-MG) que pedirá a absolvição do petista José Mentor (SP). No relatório, Moreira alegará que não conseguiu reunir provas suficientes para pedir a cassação do parlamentar, acusado de ser beneficiário de R$ 120 mil do valerioduto. Ontem, Moreira evitou comentar o voto. Integrantes do Conselho, no entanto, apostam que, apesar de conduzir o interrogatório do representado demonstrando empenho no fuzilamento do petista, Moreira não poderia pedir a cassação.
Os argumentos se baseiam na última declaração de Moreira, terça-feira, pedindo a absolvição do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Além disso, Moreira anunciou que, depois de encerrar o trabalho como relator, vai abandonar o conselho.
O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), não nega que são grandes as chances de não pedir a cassação de Mentor. Outros conselheiros também apostam nesse posicionamento. Para alguns deles, a maior manifestação de que a maré é boa para o petista é o próprio comportamento de seus aliados.
José Mentor entrou na lista de representados no Conselho por indicação das investigações preliminares da CPI dos Correios. A denúncia era de que Mentor teria recebido R$ 120 mil de uma das empresas de Marcos Valério, a 2S Participações. Para se defender, o petista apresentou notas fiscais, que comprovariam a prestação de serviços por parte de seu escritório de advocacia.
Por três trabalhos de consultoria, seu escritório teria recebido dois cheques da 2S Participações, cada um no valor de R$ 60 mil. O que pesa a favor de Mentor é o fato de seu contador ter, inclusive, recolhido todos os impostos referentes à execução do serviço ¿ este deverá ser um dos argumentos que Moreira utilizará para absolvê-lo. Mentor também foi acusado pela CPI dos Correios de ter excluído o Banco Rural das denúncias relacionadas em seu parecer quando foi relator da CPI do Banestado. A instituição financeira é uma das ligações entre o valerioduto e o suposto mensalão.