Título: Câmara oferece meia-pizza
Autor: Mariana Santos e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2006, País, p. A3
Foi mais uma quarta-feira de julgamentos no plenário da Casa em que o prato principal servido em plenário foi a meia¿pizza. Em uma sessão que começou no meio da tarde e só terminou por volta das 23h, deputados cassaram o presidente do PP, Pedro Corrêa, por 261 votos favoráveis à cassação, 166 contra, 19 abstenções e cinco brancos. Ele perdeu o mandato por apenas quatro votos acima do mínimo para a condenação, de 257 votos. Os parlamentares livraram Pedro Henry (PP-MT), ex-líder do partido, por 255 votos pela absolvição, seguindo a indicação do Conselho de Ética. Desde o início da crise política, esta foi a terceira cassação aprovada em plenário. O primeiro cassado foi Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o segundo, José Dirceu (PT-SP). Corrêa e Henry foram citados pela CPI dos Correios como beneficiários do valerioduto.
No caso de Henry, foi um julgamento sem grandes surpresas. Acusado pelo ex-presidente do PTB Roberto Jefferson de ser um dos distribuidores do mensalão na Câmara, a salvação era tida como certa desde o início da sessão. Saiu ileso do Conselho de Ética, que encaminhou ao plenário o pedido de arquivamento da denúncia. O relatório inicial, elaborado pelo deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP), foi rechaçado pelos integrantes do conselho.
Pedro Corrêa, logo no início do discurso de defesa, pediu aos colegas que considerassem sua biografia parlamentar. Mas ignorou que o apelo poderia lhe ser desfavorável. O presidente do PP já esteve envolvido em escândalos anteriores no Congresso. Em 2004, foi citado na CPI da Pirataria como um dos intermediadores da Máfia dos Combustíveis. A comissão orientou a abertura de sindicância para apurar os fatos, arquivada pelo então presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), seu colega de partido e de estado, que não está mais na Câmara. A cassação de ontem demonstrou o quanto o PP está enfraquecido nos conchavos. O partido perdeu força desde a renúncia de Severino.
Pesavam contra Corrêa as acusações de que o partido que dirige recebeu R$ 4,1 milhões do PT, de Marcos Valério, operador do mensalão. O partido, no entanto, reconhece apenas R$ 700 mil.
Corrêa chegou a se emocionar, e quase foi às lágrimas durante o discurso em plenário. Ele afirma que os supostos R$ 700 mil foram utilizados para pagar os honorários do advogado Paulo Goyaz, responsável pela defesa do então deputado Ronivon Santiago (PP-AC).
Pedro Henry, no discurso de defesa, o acusado demonstrou segurança na absolvição. Disse sentir-se injustiçado por ter sido envolvido ¿sem provas¿ no escândalo do mensalão. Discursou sobre a importância da aprovação de uma reforma eleitoral e ainda reclamou que lhe foi negado o direito da defesa prévia. Num pronunciamento melancólico, cheio de conotações trágicas, Henry disse que não vai se ¿limpar¿ tão cedo do processo pelo qual passou.
¿ Essas falsas acusações têm um grande poder de destruição. Cortam a carne e sangram a alma. Durante nove meses, procurei estancar essa hemorragia. Bastou uma só acusação leviana para fazer toda a construção de uma vida política desabar ¿ afirmou.
Henry preferiu não citar sua trajetória política como forma de defesa. Da tribuna, pediu para que os colegas o julgassem não pela sua biografia, mas pelos fatos. E não perdeu a oportunidade para ofender o relator de seu processo, referindo-se a ele como um ¿abutre¿, um ¿oportunista de plantão¿.