Título: O marketing da auto-suficiência
Autor: Bruno Rosa e Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2006, Economia & Negócios, p. A17

A gasolina mais barata vai ser o principal motor da campanha de marketing da auto-suficiência na produção nacional de petróleo. O anúncio virá a bordo de uma série de comerciais da Petrobras, veiculados a partir de 22 de abril, dia do descobrimento do Brasil. O percentual de redução dos preços ainda não está decidido, mas há margem de sobra: estudo da RC Consultores estima que a defasagem em relação ao preço do combustível no exterior, este mês, gira em torno de 16,5%.

Os filmes, aprovados pela diretoria da estatal, já estão sendo avaliados pelo Planalto. Em um deles, o narrador informa: ''Não é porque somos auto-suficientes que o preço da gasolina não vai baixar''. Outro trecho relaciona a indústria petrolífera ao desenvolvimento do país, com o mote: ''A tecnologia e o petróleo ajudando o Brasil a crescer''. Não há referências diretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas foram incluídas menções ao papel do governo federal na auto-suficiência.

A campanha publicitária custará, só na primeira fase, mais de R$ 30 milhões. É a maior da história da Petrobras, superando os investimentos na comemoração do cinqüentenário, em 2003. Os comerciais são assinados pelas três agências de propaganda que atendem a estatal: Quê, F/Nazca e Duda Propaganda - a última pertencente a Duda Mendonça, que confessou, em depoimento ao Congresso, no ano passado, ter recebido R$ 10,5 milhões em recursos de caixa dois pelo trabalho de marketing para o PT durante a campanha presidencial de 2002.

Para se ter idéia da grandeza do investimento na atual campanha, o orçamento total de publicidade da Petrobras no ano passado foi de cerca de R$ 210 milhões. Cada uma das três agências recebeu em torno de R$ 50 milhões.

Um executivo ligado à campanha afirmou ao Jornal do Brasil que a escolha do trio de criação foi uma forma de evitar polêmicas, devido aos escândalos envolvendo o dono da Duda Propaganda.

- Foram escolhidas as três agências, depois de uma concorrência interna. Para evitar notícias caso o Duda Mendonça ganhasse ou perdesse a conta, decidiu-se dividir os esforços.

No ano passado, a Duda Propaganda perdeu diversas contas do governo federal. Só conservou a da Petrobras, prorrogada em dezembro por mais um ano, sob a alegação de que a licitação para escolha das novas agências havia atrasado.

Oficialmente, a empresa limitou-se a informar que a campanha enfocará as conquistas tecnológicas propiciadas pela exploração de petróleo, além de reforçar os ''valores de brasilidade''. Todas as mídias serão contempladas, da impressa à eletrônica.