Título: Juro alto eleva dívida pública a R$ 1 tri
Autor: Fernando Nakagawa
Fonte: Jornal do Brasil, 16/03/2006, Economia & Negócios, p. A19

A dívida em títulos públicos do governo federal superou, em fevereiro, a casa de R$ 1 trilhão, puxada pela elevada taxa básica de juros, que tem impacto imediato sobre metade do débito. De acordo com dados do Banco Central e do Tesouro Nacional divulgados ontem, o passivo atingiu R$ 1,010 trilhão em fevereiro, valor 2,6% superior ao registrado em janeiro.

Especificamente em fevereiro, o Tesouro afirmou que o crescimento ante o mês anterior é resultado do aumento líquido de R$ 14,8 bilhões na dívida, sobretudo em títulos prefixados e atrelados a índices de preço. A marca trilionária não surpreendeu o coordenador da Dívida Pública, Paulo Valle, que minimizou qualquer tipo de preocupação com o número, que tende a ser usado pela oposição nas eleições deste ano.

- É equivocado destacar apenas esse número. Temos de olhar outros indicadores econômicos, que demonstraram melhora.

Ele citou o caso da relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB), indicador da capacidade de um país em honrar seus compromissos. Em janeiro, a dívida correspondia a 51,6% do PIB. Em dezembro do ano passado, o percentual era o mesmo. A relação em dezembro de 2003, no entanto, era de 57,2%. Valle acrescentou que as agências de classificação de risco preferem observar o comportamento do indicador a analisar a evolução nominal da dívida interna.

- Esse trilhão não tem qualquer efeito para as agências de rating.

O governo ressaltou que, pela primeira vez, a participação dos títulos prefixados e atrelados a índice de preços superou a fatia dos papéis pós-fixados, ligados à taxa básica de juros. Segundo o Tesouro, em fevereiro 48,34% da dívida tinham remuneração prefixada ou atrelada a índices de preços, contra 47,2% atrelados à Selic. No mês passado, o Tesouro emitiu R$ 39,717 bilhões em títulos. Segundo Valle, não foi vendido nenhum título atrelado à taxa Selic. Do total, cerca de 54% são papéis atrelados a índices de inflação. O resto é prefixado.

Segundo Valle, foi possível observar demanda maior por papéis prefixados e atrelados à inflação graças à desoneração do investimento de estrangeiros e a trajetória de queda na taxa Selic, que recuou de 19,75% para 16,5% entre setembro e março - deixando, assim, papéis pós-fixados menos atraentes.

Com o aumento da demanda, a taxa de juro paga nesses papéis caiu. Valle citou o exemplo das NTN-B (Nota do Tesouro Nacional série B) com vencimento em 2045. O título, que paga juro acrescido da variação da inflação registrada pelo IPCA, foi vendido em 13 de janeiro com taxa de 8,95%. Em 14 de março, já estava em 7,5%. O governo aumentou ainda a posição ativa no câmbio - ou seja, é credor da moeda. Segundo o Tesouro, levando em conta os contratos de swap (em que troca cotação do dólar por taxa de juro futura), o mês passado terminou com R$ 13,81 bi nesses títulos.