Título: Desaba o esquema de proteção
Autor: Daniel Pereira e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, País, p. A2

A decisão do Supremo Tribunal Federal de suspender o depoimento do caseiro Francenildo Costa levou os principais líderes da oposição no Senado a abandonarem o esquema de proteção ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Até parlamentares de partidos da base de apoio ao governo, que ao longo das investigações defenderam a permanência de Palocci à frente da equipe econômica, mudaram de opinião. Coube ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), desferir o golpe mais forte. Um dos principais articuladores da barreira erguida para proteger Palocci das denúncias de corrupção, Virgílio exigiu em nome do partido a demissão do ministro.

¿ Formei a convicção de que ele está envolvido em corrupção grossa ¿ acusou o tucano.

Virgílio acrescentou que Palocci insiste em continuar no cargo a fim de manter direito a foro privilegiado. Mas considera a permanência ¿inaceitável¿, porque ¿a estabilidade de nenhum ministro pode estar associada ao silêncio imposto pela força a um caseiro de 24 anos de idade¿.

¿ Se o Palocci continuar, é o fim do mundo ¿ declarou o líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), outro participante do acordo entre oposicionistas e governistas que resultara na proteção suprapartidária ao ministro.

Apesar da ofensiva da oposição, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e o senador Tião Viana (PT-AC) ¿ que era o responsável pela proteção de Palocci negociada com o PSDB e o PFL ¿ insistem na afirmação de que o ministro continua firme e forte no cargo. Acrescentaram que o cerco da oposição é parte da disputa eleitoral. Visaria a reduzir a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ Não estou falando de eleição mas de roubalheira, de negociata ¿ retrucou Virgílio.

Um dos poucos parlamentares que ainda conseguem chamar a atenção do plenário ao discursar, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) pediu a Palocci que, pelo menos, se licencie por um mês. Citou o precedente de Rubens Ricupero, que saiu do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco por ter dito, em entrevista, que o que era bom o governo mostrava e o que era ruim, escondia.

¿ A melhor coisa a fazer é ir para casa. E queira a Deus que possa voltar daqui a um mês com a história passada a limpo ¿ disse Simon.

Segundo o parlamentar, se o ministro não aceitar sua sugestão se transformará em alvo preferencial da campanha eleitoral. Dentro do próprio PT, há parlamentares que defendem, em conversas reservadas, a saída de Palocci do Ministério da Fazenda.