Título: Mentiras que abalam governos
Autor: Josie Jeronimo
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, País, p. A4

Um resgate histórico mostra que a mentira pode causar muitos danos aos governos. Com pernas curtas ou compridas, muitas vezes uma ¿mentirinha¿ pode ofender mais à nação que um deslize administrativo.

Em 1998, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, passou pelo constrangimento de expor a vida amorosa paralela que levava. Depois de descobrir o romance de Clinton com a ex-estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, parte da opinião pública chegou a cogitar o impeachment. A ira contra o presidente não se devia a interpretações morais contra a escapulida conjugal. O que desagradou foram as negativas do democrata.

Ainda nos EUA, o presidente Richard Nixon renunciou ao cargo em 8 de agosto de 1974 depois de flagrado no episódio de espionagem que ficou conhecido como Watergate. A opinião pública se sentiu afrontada com a atitude ¿anti-democrática¿ de Nixon, em tentar colher, secretamente, informações dos opositores.

Aproximando o público do privado, os ingleses transformaram um relacionamento extraconjugal do general de guerra John Profumo em um escândalo. Ele se apaixonou por uma prostituta de 19 anos, mas negava o caso. Descoberto, ele foi afastado do cargo em 1963. À época, o governo inglês alegou que o castigo não se devia a infidelidade conjugal, mas a exposição que o ministro causou ao país, pois um dos clientes da prostituta era adido da Marinha soviética.

No Brasil, em 1994, o ministro da Fazenda Rubens Ricupero perdeu cargo graças ao comentário que fez a um jornalista. Sem saber que estava sendo gravado, Ricupero disse ¿o que é bom a gente mostra, o que é ruim, esconde¿. Segundo o sociólogo, professor da Universidade Federal de Brasília, Caetano Araújo, a sociedade costuma julgar as autoridades também por mentiras na esfera pessoal:

¿ As pessoas consideram que o indivíduo que mente com relação a aspectos da vida privada, não merece confiança na vida pública.