Título: Pedido de vistas adia destino de Mentor
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, País, p. A5

O deputado José Mentor (PT-SP) terá que esperar pelo menos mais uma semana para ver seu destino político selado no Conselho de Ética. Acusado de ser um dos beneficiários do valerioduto, Mentor conseguiu convencer o relator de seu processo a pedir o arquivamento da denúncia. Como antecipou o Jornal do Brasil, ontem, Edmar Moreira (PFL-MG) pediu a absolvição do petista e surpreendeu muita gente.

O parecer, no entanto, não foi votado em função de três pedidos de vista. Um deles veio do colega de legenda do relator, Moroni Torgan (PFL-CE), e os dois outros, dos deputados Júlio Delgado (PSB-MG) e Cézar Schirmer (PMDB-RS). A medida adiou a apreciação do relatório do pefelista para quinta-feira.

Moreira alegou falta de provas para pedir a cassação de Mentor. No texto, listou dez argumentos para sustentar a tese. Disse acreditar que Mentor recebeu R$ 120 mil de uma das empresas de Marcos Valério, a 2S Participações, como resultado do pagamento de três trabalhos de consultoria jurídica prestados por uma empresa de advocacia, da qual o petista é sócio. Pesou a favor de Mentor, segundo o relator, a apresentação de notas fiscais, cujos impostos foram descontados na Receita.

Em meio a troca de elogios com o acusado e a defesa, o pefelista atacou os integrantes do colegiado.

- O conselheiro, no momento do julgamento, sem se despir da condição de representante da vontade popular, não deve se acovardar perante as pressões da opinião pública, mas comprometer-se com o Direito e com a Justiça, e pronunciar-se conforme seu juízo - afirmou no voto.

Ele rebateu de antemão os colegas que haviam manifestado, antes mesmo do término da leitura do voto, o interesse em pedir vista do parecer. Chegou a afirmar que não ''fabricaria provas em desfavor do representado só para agradar alguns''.

Júlio Delgado (PSB-MG) justificou o pedido de vista como uma maneira de ''respeitar o conselho''. Isto porque a sessão só contava com nove integrantes com direito a voto. Como cinco deles estariam dispostos a votar contra, o parecer não conseguiria os oito votos de apoio necessários para ser encaminhado ao plenário.

Assim, Mentor teria de enfrentar o plenário apenas com a leitura da representação encaminhada pela CPI dos Correios, que apontou o envolvimento com as contas de Marcos Valério. Delgado também requisitou prazo para analisar as mais de 10h de depoimentos de Mentor no conselho.

- Durante toda a instrução do processo, o relator construiu a formação da investigação que levava para um sentido e agora nós vemos outra coisa - afirmou Delgado.

Acompanhando o relatório de Moreira, estariam os peemedebistas Nelson Trad (MS) e Ann Pontes (PA). Além dos deputados Josias Quintal (PSB-RJ), Sandes Júnior (PP-GO), e Benedito de Lira (AL). Os pefelistas Moroni Torgan e Jairo Carneiro (BA) poderiam discordar do colega Edmar Moreira, votando contra o parecer. Com o quadro desenhado pesariam os dois votos tucanos no colegiado.

Mentor saiu confiante da sessão, mesmo tendo a votação adiada. Abraçado à mulher, e na companhia da filha e da mãe, se emocionou. Depois de um suspiro longo e aliviado, Mentor disse que vai lutar até o ''último minuto'' para ter unanimidade no conselho.

- Quero o voto de todos. A resposta do conselho tem um peso muito importante, apesar de não ser uma decisão final - afirmou o petista.

Há algumas semanas, a assessoria de Mentor distribui cópias da defesa nos gabinetes da Casa Baixa:

- Detalhei ponto a ponto da minha defesa. Continuarei trabalhando nela, inclusive com os integrantes do conselho.