Título: Samarra: o berço da recente violência sectária
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, Internacional, p. A14

A insurgência em Samarra, alvo da maior ofensiva aérea pós-invasão do Iraque, é acusada de saques e assassinatos de civis. Entre as vítimas, estão três jornalistas da rede Al Arabiya, que foram à cidade cobrir a violência sectária surgida com a explosão de bombas dentro de uma mesquita xiita, em 22 de fevereiro.

Samarra é predominantemente sunita, mas há áreas onde sunitas e xiitas vivem juntos. Desde as bombas na Mesquita Dourada, mais de 500 pessoas morreram em ataques violentos em todo o país. Analistas e autoridades temem que o Iraque esteja à beira de uma guerra civil.

A cidade também é a mais importante da província Salahuddin, que ocupa grande parte do chamado Triângulo Sunita, onde insurgentes são ativos desde a invasão americana, em 2003. O ex-ditador Saddam Hussein foi capturado na província, não longe da capital regional e sua cidade natal, Tikrit.

Desde a guerra, militares americanos lançaram várias ofensivas contra rebeldes árabes sunitas. A mais importante delas envolveu milhares de soldados, que recuperaram o controle do enclave insurgente de Faluja a custa de vida de civis. Durante as três semanas da Operação Novo Amanhecer-Fúria Fantasma, em novembro de 2004, morreram cerca de 1.600 iraquianos.

Também houve uma série de ataques contra terroristas no coração da resistência, a província de Anbar (Oeste). Sem sucesso nesta região, os americanos conseguiram apenas fortalecer a imagem de ''justiceiros'' conquistada pelos insurgentes. Depois de cada ofensiva, civis faziam questão de retirar seus parentes mortos dos escombros e expô-los para mostrar que a violência extrapola o alvo da posição inimiga.

Na Operação Enxame, que começou ontem, o Pentágono espera que não haja muitas baixas entre a população de Samarra e vilas adjacentes. Segundo o comandante do Exército americano no Iraque, Tom Bryant, a área de ataque é ''rural, na qual há algumas aldeias dispersas''.