Título: EUA reprisam invasão de 2003
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, Internacional, p. A14

No dia em que os Estados Unidos atualizaram a Doutrina Bush, que prevê ações militares preventivas com a justificativa de proteção, os americanos lançaram o maior ataque aéreo no Iraque, desde a invasão do país, em 2003. Em clima de guerra, embora oficialmente a fase de ocupação tenha terminado, mais de 1.500 soldados, 200 veículos táticos e mais de 50 aeronaves participaram da Operação Enxame. O objetivo é minar o crescimento da insurgência sunita na área de Samarra (120 km ao Norte de Bagdá).

- Depois de Faluja e outras ofensivas lançadas no Eufrates e na fronteira com a Síria, vários rebeldes se transferiram para locais próximos a Bagdá - explicou o chanceler interino do Iraque, Hoshyar Zebari. - Eles têm de ser extirpados da raiz.

Moradores da área de Samarra contaram que a operação concentrou-se em quatro vilas próximas: Jillam, Mamlaha, Banat Hassan e Bukaddou. Todas ficam às margens de uma estrada que vai de Samarra a Adwar. Militares americanos e iraquianos trabalhavam em conjunto. Explosões eram ouvidas à distância.

- Essa região concentra um sem número de atiradores, que matam e seqüestram policiais e civis - afirmou Waqas al Juwanya, morador da região.

Nas fotos divulgadas pelo Pentágono, aparecem somente helicópteros Black Hawk, carregado de soldados. Não há imagens de aviões, e não se sabe se foi lançada artilharia ar-terra contra as posições insurgentes. A tática consistiu em rapidamente desembarcar fuzileiros, mesmo que fosse em meio ao deserto, apoiados pela enorme quantidade de aeronaves. Em solo, o objetivo dos soldados era se infiltrar nas vilas, antes que a guerrilha se organizasse para um contra-ataque. Tanques foram posicionados para a retaguarda.

Uma autoridade do Pentágono, em anonimato, revelou que, embora grande, a Operação Enxame não tem a magnitude apresentada oficialmente.

- É predominantemente uma ação envolvendo 60 helicópteros UH-60 Black Hawks e algumas aeronaves para inserção de tropas em solo. Não conta com bombas de precisão ou artilharia sofisticada, como seria de se esperar da maior operação aérea no Iraque desde 2003 - disse.

Outra autoridade da Defesa dos EUA afirmou que 700 soldados da Operação Enxame são iraquianos. Os demais, americanos. Ainda assim, o governo de Bagdá comemorou a ação militar como uma vitrine de que seu Exército, treinado pelos EUA, está fazendo progresso.

- Indica que a estratégia de reconstruir nossas Forças Armadas é um sucesso - disse Zebari.

Para autoridades do Pentágono, entretanto, poucas unidades do Exército iraquiano são capazes de enfrentar a insurgência sunita sozinhas e proteger civis de atentados com carros-bomba, tiroteios e seqüestros. Os EUA, que mantêm 130 mil homens no país do Golfo Pérsico, sustenta que só se retira quando a Força iraquiana puder assumir a própria segurança.

No fim do primeiro dia da operação, militares americanos afirmaram ter capturado ''um grande número de armas inimigas, incluindo obuses de canhão, explosivos, material para fazer bombas caseiras e uniformes militares''. Segundo o Exército, a missão em Samarra vai durar ''vários dias''.

Enquanto a cidade era sitiada, em Bagdá o novo Parlamento prestava juramento, sob forte segurança ante o risco de guerra civil. Ao som de piano, os representantes das principais etnias e blocos políticos do país - em trajes tradicionais árabes e curdos - entraram no Congresso. A sessão inaugurou o período de 60 dias, no qual o Parlamento deve eleger um presidente a aprovar um novo primeiro-ministro e Gabinete. Ibrahim al Jaafari é o favorito a um segundo mandato como premier.

A Operação foi mencionada por Adnan Pachachi, político sunita responsável pelo juramento, o que provocou a ira dos legisladores xiitas.

- Temos que provar que o povo não quer uma guerra civil. O perigo está à espreita, porque os inimigos não vêem um Iraque unido - discursou.

O ex-embaixador do Iraque na ONU foi interrompido pelo líder xiita Abdul-Azziz al Hakim, que chamou o discurso de ''inapropriado'' pelo conteúdo político. Por fim, foi retirado da ata.