Título: Ressaca na Schincariol
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. A20

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra 78 funcionários, diretores e colaboradores da Schincariol por um esquema de irregularidades na venda de produtos da cervejaria e na compra de matéria-prima para a produção.

As denúncias são pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e falsificação de documentos.

De acordo com a assessoria do Ministério Público, enquanto a Receita Federal não concluir o processo administrativo fiscal que está em curso, a Procuradoria não pode oferecer denúncia por sonegação fiscal.

Entre as pessoas denunciadas estão diretores e ex-diretores da Schincariol, donos, empregados e colaboradores de distribuidoras consideradas ''parceiras'', diretores de empresas fornecedoras de insumos, como o malte, fiscais da Receita Estadual do Rio Grande do Norte, Alagoas, Goiás e Rio de Janeiro e donos de empresas de Alagoas e Rio Grande do Norte que simulavam a compra de insumos, entre outros.

Segundo o Ministério Público, existem indícios de que duas quadrilhas atuavam no esquema. A primeira sonegava impostos na distribuição de produtos da cervejaria, declarando um valor inferior ao que de fato era comercializado. No acordo, as distribuidoras remetiam a diferença à Schincariol, em espécie, sem declarar.

A outra quadrilha sonegava na compra de matéria-prima, com base em notas fiscais emitidas por fornecedores da cervejaria em nome de empresas fantasmas, que ficavam responsáveis pelo pagamento de tributos.

- O crime de sonegação fiscal não foi incluído neste momento em virtude da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que exige o término do procedimento administrativo fiscal, o qual ainda está em curso - afirma o procurador da República Leonardo de Carvalho, que atua no município de Itaboraí.

O Ministério Público Federal entregou a denúncia à Justiça Federal de Itaboraí que, assim que recebê-la, poderá determinar o início da ação penal.

Em junho do ano passado, cinco donos da Schincariol e diretores da empresa foram presos durante a ''Operação Cevada'' da Polícia Federal.

Na megaoperação realizada pela PF foram presas 68 pessoas em 12 estados.

Todas são suspeitas de participar de esquema de sonegação de impostos. A operação envolveu também a cervejaria Petrópolis, que fabrica a cerveja Itaipava, representantes de distribuidoras de bebidas e servidores públicos.

Em São Paulo, cinco integrantes da família Schincariol ficaram presos: os irmãos Adriano (diretor-superintendente) e Alexandre (diretor de RH), além de Gilberto (vice-presidente) e seus filhos Gilberto Júnior e José Augusto - primos de Adriano e Alexandre Schincariol.

Um dos denunciados é Walter Faria, dono da cervejaria Petrópolis, que vem ganhando mercado com as marcas Crystal e Itaipava. Em fevereiro, o grupo alcançou 5,7% de participação. Há um ano, era de 4,7%.

A Schincariol afirmou em nota que só se pronunciará oficialmente quando tiver acesso aos laudos da denúncia do Ministério Público.