Título: Novo centro substituirá o Caje
Autor: Cristiane Madeira
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, Brasília, p. D5

Um dia depois da constatação de que o Centro Atendimento Juvenil Especializado (Caje) tem instalações precárias e funciona nos moldes de presídio, contrariando as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, afirmou que parte da unidade será demolida. - Não existe problema de violência apenas no Caje. A população de Brasília cresceu em proporções giganteIscas e a consequência foi o aumento da criminalidade. Não tenho máquina para produzir recursos financeiros. Se tivesse, já teria feito muito mais coisas para amenizar os problemas da população - considerou.

Na quarta-feira, uma visita-surpresa da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia da Ordem dos Advogados do Brasil ao Caje, verificou que o lugar tem problemas de superlotação, alimentação precária e assistência médica e psicológica insuficientes. Outro ponto foi a existência de salas de castigo'' sem condições mínimas, como ventilação e brechas para passagem de luz. Dentro da ''solitária'', os adolescentes não tinham como distinguir se era dia ou noite.

O secretário de Ação Social do GDF, Gustavo Ribeiro rebateu as acusações das comissões de direitos humanos, afirmando que não existem maus-tratos e nem comida estragada, pois os meninos têm assistência completa e se alimentam cinco vezes ao dia. Também lembrou que, em 2004, quando houve intervenção federal em razão da superlotação, havia 400 internos. Hoje, eles somam 280.

- O Caje é a instituição mais fiscalizada do DF. O Ministério Público está sempre presente, assim como a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa e outras organizações em defesa da criança e do adolescente. O que fizeram foi um jogo político sórdido, porque sabiam que hoje, inauguraríamos a Granja das Oliveiras, com instalações modernas e adequadas - disse.

A desativação do Caje começará depois que os 261 internos forem transferidos para os dois novos centros de internação, recém construídos. A partir de maio, serão levados 30 adolescentes por mês.

No Caje, localizado na Asa Norte, ficarão apenas as 19 meninas, internadas em um prédio separado e relativamente novo. Está prevista ainda a construção de um centro de triagem e internação provisória no lugar das edificações a serem demolidas, onde ficarão instaladas unidades da Vara da Infância e da Juventude, da Delegacia da Criança e do Adolescente e da Secretaria de Ação Social do DF.

Setor Noroeste - O secretário negou que a desativação do Caje tenha ligação com as pressões dos empresários da construção civil, interessados em investir no novo bairro habitacional destinado à classe média alta. A previsão é de que a instalação da infra-estrutura do Setor Noroeste aconteça ainda este ano.

- Nunca recebemos qualquer crítica ou comunicado por parte de investidores que quisessem investir no Noroeste. Isso não existe. As novas unidades partiram da necessidade de dar melhor assistência aos adolescentes - disse.

Ciago - Ontem, Roriz inaugurou a mais nova unidade para abrigar jovens infratores, recém-construída a um custo de R$ 15,8 milhões, dos quais apenas R$ 2,5 milhões do governo federal. Trata-se do Centro de Internação de Adolescentes Granja das Oliveiras (Ciago), no Recanto das Emas, com capacidade para 144 internos entre 12 e 17 anos. O lugar tem 89 mil m², dos quais 13,5 mil m² são de área construída.

O projeto foi arquitetado na forma de trevo. São três alas, cada uma com quatro pétalas. Cada pétala terá quatro quartos, uma sala de estar, quatro pátios, jardim de inverno, duas salas para coordenação técnica e monitoria. Cada quarto comporta três adolescentes. São 48 jovens em cada pétala.

O complexo ainda compreende espaço para escola, oficinas profissionalizantes, duas quadras poliesportivas, um campo de futebol, dez guaritas e o chamado ''módulo especial de reflexão'', onde o adolescente poderá ficar recolhido por medida disciplinar ou para garantir a integridade física em casos de ameaças.

A outra unidade de internação de jovens infratores será inaugurada no fim do mês, em Planaltina. Para lá serão levados os outros internos masculinos do Caje.

A triagem para saber como serão divididos os adolescentes entre os dois novos centros será feita com base na separação que já existe dentro das alas da unidade da Asa Norte.

- Os internos serão separados por afinidade, idade e estrutura física. A idéia é separar gangues rivais para evitar atritos - explicou Gustavo Ribeiro.