Título: Adeus, Josué
Autor: Luís Pimentel
Fonte: Jornal do Brasil, 17/03/2006, Caderno B, p. B1

¿Aquele que acordar mais cedo, é esse que tange o sino!¿ A frase que aparece acima foi citada por Josué Montello, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em junho de 1955. Assumia a cadeira de número 29, da qual foi o quarto ocupante, substituindo Cláudio de Souza. Homem cultíssimo, Montello ¿ que foi enterrado ontem no Rio ¿ citava Petrônio e a prosa antiga do infante Juan Manuel, mas fazia uma referência à sua própria prática literária.

Josué, que mais tarde veio a presidir a ABL, foi um homem que acordou cedo e tangeu sinos imponderáveis, das catedrais históricas da capital do Maranhão, onde nasceu em 1917 (dia 21 de agosto) e onde buscou inspiração para elevar um romance espetacular, Os tambores de São Luís, aos panteões da glória literária. Se não chegou a ser uma unanimidade de público e de crítica, gozou durante mais de seis décadas (pelo menos a partir da publicação de seu romance Janelas fechadas, em 1941) de enorme respeito e admiração.

O professor, romancista, cronista, contista, ensaísta, historiador, orador, memorialista e teatrólogo Josué Montello começou a vida como jornalista. Na primeira e segunda décadas do século passado destacou-se como colaborador dos principais jornais maranhenses ¿ A Tribuna, Folha do Povo e O Imparcial entre eles. Com menos de 20 anos, mudou-se para Belém do Pará, onde intensificou a carreira jornalística, colaborando em vários jornais e revistas, sobretudo O Estado do Pará.

No fim de 1936, pegou o Ita no Norte e desembarcou no Rio de Janeiro, para construir uma das mais profícuas e extensas carreiras de escritor do país. Viveu intensamente a vida literária e colaborou regularmente em Careta, O Malho e Ilustração Brasileira, além dos suplementos dominicais de A Manhã, O Jornal, O Correio da Manhã, Diário de Notícias e Jornal do Commercio. Curioso e versátil como poucos, por mais de um ano escreveu críticas de teatro para o jornal A Vanguarda. Foi, aliás, um pioneiro nessa atividade no Brasil.

Montello deixou uma obra literária das mais significativas em nossas letras. Destacou-se sobretudo nos romances (publicou 27) e são esses os principais títulos: Janelas fechadas (1941); A luz da estrela morta (1948); Labirinto de espelhos (1952); Os tambores de São Luís (1975); Noite sobre Alcântara (1978); A coroa de areia (1979); O silêncio da confissão (1980); Antes que os pássaros acordem (1987); A última convidada (1989); Um beiral para os bem-te-vis (1989); O camarote vazio (1990); O baile da despedida (1992); e A viagem sem regresso (1993).

Também publicou obras de história política, história literária, novelas, contos, teatro e literatura infantil. Com a morte de Josué, a eleição à cadeira 28 da ABL, disputada por Célio Borja e Domício Proença, foi adiada para o dia 28 deste mês.