Título: Riqueza rumo ao interior
Autor: Luisa Belchior
Fonte: Jornal do Brasil, 20/03/2006, Economia & Negócios, p. A18

A chegada de grandes indústrias, o boom do petróleo e das indústrias naval e offshore em pólos regionais do estado do Rio de Janeiro desenharam, no início da década, uma nova dinâmica sócio-econômia no território fluminense. A diferença entre a participação do interior e da capital no Produto Interno Bruto (PIB) do estado, que era de 24,5% em 1998, caiu para 12,4% em 2004. Os dados são da Fundação Centro de Informações e Dados do Estado (Cide), que mostra com clareza, no Índice de Qualidade dos Município (IQM) 2005, da Fundação, a que o Jornal do Brasil teve acesso exclusivo, que a economia caminha para o interior.

O IQM mostra um ranking do grau de atração de investimentos dos 92 municípios do Rio. Em 2005, cidades como Rio das Ostras e Porto Real, que não apareciam sequer entre as 20 primeiras no IQM realizado em 1998, alcançaram, respectivamente a sexta e a sétima posições. A capital e Niterói continuaram a ocupar, respectivamente, a primeira e a segunda posições e Macaé, que já haviam figurado entre os cinco primeiros no IQM 1998, subiu mais duas posições com o apoio dos royalties do petróleo, conquistando o terceiro lugar que há oito anos pertencia a Resende.

- Estamos vendo um estado equilibrado entre a capital, centrada nos serviços, e o interior, forte nas indústrias - analisa o diretor da Fundação Cide, Ranulfo Vidigal.

A descentralização da economia fluminense está sendo impulsionada, segundo o estudo, pela atividade extrativista no Norte fluminense e a instalação de indústrias no Médio Paraíba, como a PSA Peugeot Citroën em Porto Real, que tornou o PIB per capita do município o maior do estado e fez com que o PIB total, R$ 2,523 bilhões, crescesse mais de 80% desde 1998. Com menos de 15 mil habitantes, Porto Real já se tornou pólo de emprego para cidades próximas. É o caso do morador de Quatis e dono da JJR Serviços, Jorge Noyma, que tem a PSA Peugeout Citroën como maior cliente.

- Hoje a Peugeot representa 70% do faturamento da minha empresa - diz ele, que lamenta, no entanto, a falta de infra-estrutura de Porto Real, que colocou o município no 64º lugar no item do IQM que analisa a qualidade de vida no local.

- O Sul fluminense é a segunda região a concentrar mais investimentos nos últimos anos. A privatização da Via Dutra e a posição estratégica entre Rio e São Paulo colaboraram - comenta Marta Franco, assessora de infra-estrutura e novos investimentos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), que prevê, no entanto, uma contínua dominação da Região Metropolitana no PIB do estado.

O expressivo aumento do valor arrecadado com royalties do petróleo no estado também dão uma dimensão do movimento: a arrecadação subiu de R$ 37, 295 milhões, em 1998, para R$ 1,799 bilhões em 2004. A produção de petróleo extraído em municípios como Macaé e Rio das Ostras, que cresceu 51% desde 1998, passou a representar 20% do PIB do estado, 18% a mais que em 1998.