Título: Brasileiros cobram mais punições
Autor: Lígia Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 20/03/2006, Brasília, p. D3

De acordo com o Instituto Patrícia Galvão, em pesquisa realizada pelo Ibope em setembro de 2004, 30% das mulheres sofrem algum tipo de de violência. Essa proporção fica à frente até do número de casos de câncer de mama e de útero (17%) e aids (10%). O estudo revela ainda que 91% dos brasileiros consideram muito grave o fato de mulheres serem agredidas por companheiros e que 90% dos brasileiros acham que o agressor deveria sofrer um processo ou ser encaminhado para reeducação. A história da dona de casa S.G.A.L, 35 anos, é exemplo de que tratamento e orientação podem transformar o quadro de violência doméstica. Após seis anos de casamento, seu marido J.M.L, 38 anos, passou a chegar em casa bêbado e também a agredi-la. As memórias daqueles tempos, segundo ela, são tristes e a remetem a humilhação e ao medo.

- É uma situação dolorida e de muito sofrimento, onde todo mundo sofre, principalmente os filhos. É difícil não se sentir culpa em meio a tudo isso - explica a mulher.

S.G.A.L. conta que quando procurou a 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia) estava divida entre a vergonha e o desespero. No dia do depoimento no Juizado Especial Criminal, ela estava decidida a retirar a queixa.

- Mas o promotor mandou chamar nós dois, apesar da minha desistência e isso mudou tudo - declara.

As perguntas que o promotor Fausto Lima fez ao marido dela, naquela tarde, a dona de casa diz que jamais esquecerá.

- Lembro-me que ele perguntava ao meu marido se aquela era a educação que ele queria dar para os nossos filhos. Ele ficou bastante constrangido com a situação, enquanto eu me sentia acolhida. Finalmente alguém entendia o meu problema - lembra a S.G.A.L.

Por inúmeras vezes ela pensou em separar-se do marido, mas não o fez por causa dos filhos e também porque ainda gostava dele.

- E quando gostamos, pensamos que as coisas podem mudar - diz.

Ela e o marido foram acompanhados pelo núcleo de atendimento da promotoria da Samambaia por seis meses. Desde que começou o tratamento, há dois anos, ele faz parte do Alcoólicos Anônimos.

Hoje a dona de casa diz-se feliz por ter procurado ajuda, uma vez que a família dela continua unida e paz. Ela conta que o casal não conversa sobre aquele tempo, embora a dona de casa sinta que ele se sente envergonhado.

- Às vezes, eu me surpreendo por ter suportado e superado tudo isso - declara a mulher.