Título: PMDB abandona Garotinho
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/03/2006, País, p. A5
Um dia depois de ser anunciado como vencedor da consulta informal do PMDB, o ex-governador do Rio e pré-candidato à Presidência da República Anthony Garotinho começou a ser abandonado pelo partido. Setores do PMDB reconhecem que a disputa interna, a partir de agora, se limitará a Garotinho e aos integrantes do partido contrários à candidatura própria ao Planalto, sejam governistas, como o senador José Sarney (AP), sejam da oposição, caso do deputado Geddel Vieira Lima (BA). Apesar de o governador licenciado do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, derrotado na consulta informal de domingo, ter declarado ontem apoio a Garotinho, o ex-governador do Rio pode estar fadado a pregar sozinho no deserto caso seja mantida a verticalização das coligações, regra segundo a qual os partidos têm de respeitar nos estados a aliança fechada para a eleição presidencial.
O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), até então um entusiasta da tese da candidatura própria, admitiu ontem que a consulta informal realizada no domingo não tem validade jurídica. O partido decidirá sobre candidatura própria apenas em junho, durante a convenção nacional. O nome de Garotinho, escolhido na consulta, será apenas indicado para a convenção. Rigotto anunciou que vai acatar o resultado da prévia informal e não pretende disputar a convenção.
¿ O resultado não será levado à convenção porque não tem valor jurídico ¿ disse Temer.
Na consulta realizada em 21 dos 27 diretórios estaduais do PMDB no país, Garotinho foi escolhido como candidato do partido com 56,6% dos votos, contra 43,4% de Rigotto. Apesar de ter recebido menos votos, considerando-se números absolutos, Garotinho sagrou-se vencedor pela média ponderada ¿ peso diferenciado para votos de cada estado. Houve consulta informal porque as prévias foram suspensas no sábado por liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Edson Vidigal. Ontem, o ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a decisão do STJ.
Embora os aliados do ex-governador tentem minimizar os efeitos de uma prévia sem validade jurídica, Garotinho disse, em conversa reservada com Temer, saber da árdua batalha que o espera e dos muitos obstáculos que serão colocados na tentativa de homologar a candidatura. Os governistas, liderados pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), aceitaram abrir mão da convenção partidária convocada por eles para 8 de abril. O argumento é que não haveria motivos para submeter a uma convenção uma votação sem validade jurídica.
Líderes da ala oposicionista do PMDB também lançam dúvidas sobre a conveniência da candidatura própria com a verticalização, o que pode prejudicar as alianças nos estados.
Não bastassem os interesses estaduais, joga contra Garotinho o fato de a candidatura ainda assustar os cardeais do partido. Caciques das alas antagônicas do PMDB temem que o ex-governador do Rio faça da legenda o trampolim para um projeto pessoal de se consolidar como o principal nome da oposição no país. E depois, caso não ultrapasse a barreira do primeiro turno da eleição presidencial, abandone o partido, negociando pessoalmente, na condição de interlocutor preferencial, o apoio a um dos dois candidatos no segundo turno.
Garotinho se fia no apoio das bases do partido à candidatura para conseguir oficializar seu nome.
¿ A consulta no domingo deu respaldo político à candidatura própria. É nisso que apostamos. Já sabíamos que teria de ser submetida à convenção em junho de qualquer maneira ¿ afirmou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O ex-governador do Rio também aguarda o apoio de Rigotto na convenção de junho. Contrariado com o sistema de voto ponderado das prévias, Rigotto prometeu continuar trabalhando pela candidatura própria.
¿ Eu puxei o freio. Tive uma vitória política incrível. Prefiro que a tese da candidatura própria continue. Vou apoiar o Garotinho ¿ disse.