Título: Pelos aliados, governo corta na própria carne
Autor: Sérgio Pardellas, Romoaldo de Souza e Paulo de Tar
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, País, p. A-3

Para melhorar o funcionamento do Executivo, sustentado pela chamada ''administração de coalizão'', o Palácio do Planalto e e o PT anunciam que vão cortar na própria carne para abrir espaços na estrutura administrativa aos aliados. O quebra-cabeça da reforma ministerial, contudo, passa pelas presidências da Câmara e do Senado. Com a emenda da reeleição quase enterrada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja que um dos ministros escolhido pelo Palácio do Planalto para desembarcar da Esplanada seja o candidato do PT na disputar pela Mesa da Câmara, com o apoio da bancada governista.

Esta tese foi manifestada pelo presidente Lula aos 17 dos 18 ministros petistas que compareceram anteontem à noite na Granja do Torto. Segundo relataram ao Jornal do Brasil pelos menos três pessoas presentes no encontro, a declaração do presidente carrega um significado claro: parte dos 18 petistas que ocupam hoje ministérios deve deixar os cargos. Ou seja, o PT irá perder uma significativa fatia no bolo do poder federal. Deverão ganhar mais espaço na nova geografia ministerial o PMDB e o PP. O PTB também deverá ser contemplado com uma pasta. A compensação ao PT será a presidência da Câmara, com o candidato petista, provavelmente um ministro, sendo ungido pela base governista.

- Os cargos precisam ser distribuídos para essa força que a gente precisa montar - teria dito o presidente do PT José Genoino (SP) durante a abertura do encontro.

À noite, Lula voltou a tocar no assunto durante a posse da nova diretoria da Confederação Nacional do Comércio. Mandou recado para os ministros que perderão os cargos com a reforma.

- O Estado é uma estação de trem; o governo é o trem. Entra governo, sai governo, a máquina do Estado continua lá. Há horas em que é preciso dar uma pintada nova, para as pessoas sentirem que existe um novo trem - afirmou o presidente, dizendo torcer para que os que vão desembarcar ''tenham aprendido o sentido da sua passagem''.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), endossou o pensamento de Lula:

- Seguramente, o PT facilitará a vida do presidente da República para escalar a seleção do Brasil e montar o melhor time para jogar esse segundo tempo.

Como apenas os deputados podem ocupar a presidência da Câmara, a escolha estará restrita a três nomes: os ministros do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, do Trabalho, Ricardo Berzoini e da Casa Civil, José Dirceu. Hoje, o mais cotado para assumir o posto é Patrus Ananias, desgastado na área social. Além de agradar a base governista, o ministro teria o perfil ideal para conduzir a agenda positiva que o governo pretende cumprir em 2005.

As alterações na Esplanada devem estar concluídas até 10 de dezembro, data da próxima reunião ministerial. A fim de evitar injustiças na hora das demissões, durante o encontro Lula pediu um balanço das atividades de cada pasta nesses dois anos de governo. Embora saiba o que está ou não rendendo a contento na estrutura administrativa federal, o presidente quer evitar reclamações dos candidatos à exoneração.

Durante a reunião, cada ministro petista falou por 10 minutos sobre a experiência nesses dois anos de governo.

Ao partido, Lula pediu que afinasse o discurso. Trabalhar em consonância com as diretrizes estabelecidas pelo governo e ter uma postura mais coesa e ofensiva, na defesa do governo.

- O PT tem de estar mais ajustado, mais ofensivo e mais informado das ações, dos programas e das estratégias de governo - afirmou o presidente do PT, José Genoino, que abriu o encontro.

Para Genoino, é importante mostrar as realizações do governo. Ele citou, por exemplo, o combate à corrupção, a recuperação da economia e os programas sociais.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que se reuniu com Lula e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), defendeu mais uma vaga para o PMDB no ministério. Segundo Sarney, o próprio Lula admitiu que há uma negociação com o PMDB no sentido de examinar uma possibilidade de mais um ministério para o partido.