Título: Carioca toma empréstimo sem olhar os juros
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 21/03/2006, Economia & Negócios, p. A17

Metade dos cariocas que tomam empréstimos numa financeira saem sem saber sequer a taxa de juros cobrada. Levantamento feito pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) revela que a maior preocupação dos consumidores é conferir se o orçamento comporta o valor mensal das parcelas. Pior: o dinheiro é o mais caro do mercado, seguido de perto pelo rotativo do cartão de crédito, mas a maioria dos consultados aproveita o crédito fácil e rápido para pagar outras dívidas, além de comprar bens e realizar obras em casa.

- Os consumidores não têm noção de quais são as taxas de juros cobradas. Eles só querem saber o valor mensal. Como, na maioria dos casos, as financeiras utilizam tabelas apenas com os valores das prestações, os entrevistados acabam não perguntando quais são os juros embutidos. - explica Cecília Mattoso, professora e pesquisadora da ESPM Rio, para quem o consumidor sabe perfeitamente que paga caro pelo crédito, mas vê nas financeiras a única saída para não ficar com o nome sujo na praça.

A maioria (56,2%) dos que tomam dinheiro emprestado integra as classes C e D. Por isso, na avaliação de Cecília, são mais suscetíveis a problemas como doença ou desemprego. Para ela, a máxima de que ''pobre é bom pagador'' é enganosa. As financeiras atestam: a inadimplência aumentou este ano, atingindo 14%, contra 11% a 12% no fim do ano passado. Nos bancos, os maus pagadores respondem por 5% a 6% do total.

- A renda dessas famílias é muito pequena. Eles podem ficar sem emprego de um dia para outro e não possuem nenhum tipo de reserva financeira. Por isso, com medo de não conseguir pagar alguma parcela de um financiamento, recorrem a um dos créditos mais fáceis do mercado e, também, um dos mais caros - completa Cecília.

Na pesquisa, foram ouvidas 100 pessoas, na primeira quinzena de março, em financeiras do Centro do Rio. É um público geralmente sem acesso ao sistema bancário e que se sujeita às condições mais adversas do mercado de crédito, comparáveis apenas às impostas por agiotas.

- Como 65% dos entrevistados não têm acesso a bancos, comparam as taxas com as cobradas por agiotas. E, por isso, não acham as cobranças mensais tão caras. A maioria dos entrevistados é de trabalhadores informais. Por isso, têm de recorrer a empresas que não pedem comprovantes de renda - ressalta Cecília.

Cerca de 20% dos entrevistados pedem empréstimos superiores a R$ 1 mil. O valor é superior à renda média familiar, de R$ 950, o que eleva o risco de inadimplência.

- Com o boom do crédito, os brasileiros estão consumindo mais do que o orçamento comporta. Por isso, cerca de 70% dos entrevistados pagam uma dívida com outra. Além disso, mais da metade estão utilizando o crédito pela segunda ou terceira vez - afirma a pesquisadora.