Título: Bons de conta mas ruins na explicação
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, País, p. A3

Dois bons professores de matemática, segundo relatam ex-alunos e amigos, o deputado federal Professor Luizinho (PT-SP) e o ex-secretário de Finanças do PT Delúbio Soares enrolaram-se nas explicações dos números fora da sala de aula e criaram equações difíceis de entender no cenário político. Na lista negra da Câmara, Luizinho é suspeito de se beneficiar do esquema de mensalão a políticos do qual Delúbio seria um dos mentores. O secretário do PT caiu e, hoje, Professor Luizinho enfrenta ao lado de Roberto Brant (PFL-MG) o plenário na votação do processo de cassação dos mandatos.

O perfil do político Luizinho não lembra nem um pouco a performance acadêmica do professor frente ao quadro, considerado bom mestre. Lembrado por alunos como piadista, rígido, assíduo e até paquerador, Luiz Carlos da Silva lecionou matemática no grau científico da Escola Estadual João Paulo I, em Santo André, região do ABC Paulista, de 1977 a 1980. Depois, licenciou-se para seguir carreira sindical e política. Passados 26 anos, os ex-alunos não entendem como ele se complicou diante da denúncia.

- Ele se preocupava, na sala, com o conceito de cidadania. Era rígido e sério. Não vejo nenhum sentido em precisar de R$ 20 mil para caixa dois - comentou o bancário Vagner de Castro, 40 anos, aprovado pelo ex-professor em 1979 e eleitor do deputado.

Claudete Pechtoll, 39 anos, formou-se em pedagogia e reafirmou seu voto em Luizinho caso não ele seja cassado hoje. Foi ela quem fez questão de ressaltar as qualidades galanteadoras do professor.

- Ele era mais magro e paquerador de alunas. Contava muitas histórias.

A pedagoga não faz idéia, no entanto, de qual será o teor do discurso de defesa do deputado hoje em plenário. O professor Juraci Duarte, 59 anos, revelou o que ele tem dito na roda de amigos em Santo André:

- Luizinho é muito responsável e entre amigos diz que (o mensalão) foi problema do assessor (que teria recebido o cheque de R$ 20 mil).

A vida longe da política também era bem diferente para ''Jesus Cristo'', ou melhor, Delúbio, que atendia ao carinhoso apelido dado pela amiga Maria Lúcia Dornelas. Fazia sentido já na década de 80, quando se conheceram. ''Ele era já barbudão e lembrava a fisionomia de Cristo'', relatou a amiga, hoje secretária do Lyceu de Goiânia. Foi ela que simpatizou com o rapaz humilde - bem diferente do que é hoje - que chegara a Goiânia, vindo da pequena Buriti Alegre. Ganhou a confiança da amiga e uma vaga no colégio.

- Era um ótimo professor. Usava roupas simples, vinha de bicicleta para a escola. Fiquei surpresa quando surgiram as denúncias, porque ele não era disso - lamenta Maria Lúcia, que não o vê desde o dia em que ele deixou a escola. ''Cresceu muito'', concluiu.