Título: João Paulo Cunha é arrasado
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, País, p. A3

Um relatório demolidor, apresentado pelo deputado Cézar Schirmer (PMDB-RS) no Conselho de Ética, complicou a vida do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Identificado como um dos beneficiários do valerioduto, João Paulo sentiu que o peso da influência pode não ser tão decisivo para livrá-lo da cassação no plenário. O petista não contava que o relator pudesse ser tão minucioso e incisivo nos argumentos e provas apresentados para pedir a cassação do mandato. Tanto que, segunda-feira, chegou a pedir para a colega Ângela Guadagnin (PT-SP) que não adiasse a votação do relatório com um pedido de vista. No entanto, João Paulo voltou atrás durante a sessão.

João Paulo interrompeu o discurso da deputada, que já tinha declarado não querer ver o relatório para mostrar mudança. ¿ O que disse não é necessário que seja seguido ¿ disse João Paulo.

Guadagnin entendeu o recado. Fiel escudeira dos petistas e aliados representados no Conselho, a deputada pediu vista do processo, o que adia para semana que vem a votação do parecer. A justificativa apresentada por Guadagnin, no entanto, mostrou-se menos indignada do que nos pedidos anteriores. Admitiu que ficou um pouco perdida com o voto de Schirmer, mas disse que pretende apresentar amanhã voto em separado. ¿ O relatório foi muito bem feito, não há dúvidas. Mas questiono algumas colocações que prefiro não adiantar neste momento ¿ ressaltou. Num texto de 63 páginas, Schirmer não perdoou um só deslize de João Paulo. Contestou ponto a ponto as declarações do ex-presidente da Casa e acabou destruindo a tese da defesa. A contratação da agência SMP&B, de Marcos Valério, feita na gestão de João Paulo na presidência da Casa, foi um dos pontos explorados no relatório. Schirmer citou auditorias do Tribunal de Contas da União e da Secretaria de Controle Interno da Câmara, que mostram irregularidades nos contratos.

O nível de preciosismo de Schirmer chegou a tanto que consultou os Correios para provar que João Paulo mentiu. O petista havia argumentado que a mulher, Márcia Regina Milanesi, esteve no Banco Rural para pagar conta da TVA. Mas, segundo os Correios, o boleto emitido em 2 de setembro, não teria como chegar a São Paulo até o dia 4 seguinte, data do saque de R$ 50 mil, feito por Márcia em Brasília.

Schirmer diz que João Paulo cometeu pelo menos oito condutas que comprovam quebra de decoro, entre elas, ¿mentiras e omissões, intermediações e subcontratações ilegais¿. No início da sessão, João Paulo, ainda cheio de segurança, fez nova defesa. O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), apareceu no conselho, olhou o relatório e logo deixou a sessão, em silêncio. Integrantes do conselho ficaram surpresos com a qualidade do documento. Schirmer apenas avaliou o trabalho como ¿fruto de cruzamento de documentos oficiais e provas com as declarações do representado¿. Apostas de integrantes do conselho admitem a condenação por 11 votos a 3. O petista receberia apoio só de Guadagnin, Benedito de Lira (PP-AL) e Sandes Júnior (PP-GO).