Título: Comandante do Exército ganhou vaias no avião
Autor: Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, País, p. A5

Assim que embarcou no polêmico vôo da TAM de Campinas a Brasília no lugar de um casal que já estava instalado, o comandante do Exército, general Francisco de Albuquerque, dirigiu-se à cabine do comandante no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Enquanto isso, sua mulher, Maria Antonina de Albuquerque, recebia estrondosa vaia a caminho do assento. Em seguida, foi a vez de o militar ouvir a barulhenta recepção naquela Quarta-Feira de Cinzas. Os passageiros não gostaram de esperar meia hora pela chegada da pessoa anunciada pelo piloto como ¿ministro¿. O general Albuquerque ficou irritado. De acordo com relato feito ao JB por um passageiro que se sentara na poltrona 5 do vôo, o avião já estava lotado e preparado para decolar quando, subitamente, retornou à pista. Sem saber o que acontecia, os passageiros ficaram nervosos:

¿ Começou um burburinho. Todo mundo pensou que havia uma falha mecânica. Foi quando o comandante avisou que a torre tinha contactado e embarcaria um ministro ¿ contou Matheus Amorim, 30 anos, engenheiro e morador de Manaus.

Uma aeromoça perguntou, pelo microfone, se dois passageiros gostariam de ceder os lugares em troca de hospedagem e garantia de embarque no vôo subseqüente. Passaram-se alguns minutos até que um casal de meia idade levantou-se. A partir daí, mais demora. Até que 30 minutos depois, os passageiros viram entrar na pista uma van que levava o suposto ministro.

¿ Um senhor foi à cabine e disse que todo mundo ali tinha horário e não era porque um ministro ia a Brasília que todos eram obrigado a esperar.

Assim que o ministro entrou no avião de terno cinza e camisa branca, ao lado da mulher, ninguém soube de quem se tratava. Especulou-se que poderia ser alguém do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça. Um advogado logo esclareceu:

¿ Da Justiça não é.

O general entrou e foi direto à cabine do piloto. A mulher passou pelo corredor em direção à poltrona, na parte de trás. No trajeto, viu-se em meio à algazarra. Depois, foi a vez do marido.

¿ Imagina a cena: você caminhando até a sua poltrona, as pessoas olhando e uma chuva de aplausos sarcásticos e vaias tremendas. O ministro ficou passado.

Depois da sessão de vaias, o comandante do Exército, sem se identificar, ensaiou discurso. Tentou pedir desculpas, dar explicações e culpar a TAM. Não adiantou. Quanto mais falava, mais provocava a ira dos outros passageiros. Foi cortado por mais gritos de ¿Vamos embora¿, ¿Já chega¿. O general rendeu-se. Ficou quieto. O avião, finalmente, levantou vôo para Brasília.

Agora, o militar precisará explicar-se à Comissão de Ética da Presidência. E deputados da Comissão de Defesa do Consumidor também vão pedir satisfações sobre a decisão do Departamento de Aviação Civil de adiar a decolagem.