Título: Tiro de fuzil matou estudante
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, Rio, p. A6

Perícia do Instituto Médico Legal (IML) revelou que o estudante Eduardo dos Santos, 16 anos, morto durante tiroteio entre homens do Exército e traficantes do Morro da Providência, foi atingido por um tiro de fuzil dado por alguém que estava quase no mesmo patamar da vítima. Segundo testemunhas, Eduardo assistia ao conflito do mirante na Praça Machado de Assis, no Morro do Pinto, no Centro, a cerca de 200 metros dos soldados. De acordo com a delegada da 4ª DP (Central) Evanora Gomes, o atirador estava quase no mesmo plano que a vítima. Consternada, a família de Eduardo pediu por justiça enquanto ele era enterrado ontem no Cemitério do Catumbi. - Na Providência, havia soldados do Exército, traficantes e policiais militares. Não sabemos quem atirou, mas a pessoa estava quase na mesma altura da vítima - garantiu Evanora.

O relações-públicas do Comando Militar do Leste, coronel Fernando Lemos, garantiu que os soldados do Exército não estavam no mesmo patamar do jovem. Para Lemos, provavelmente os tiros partiram de traficantes. Segundo o diretor do IML Roger Ancillotti, um dos tiros entrou pelo lado direito da região dorsal do rapaz, na altura da sétima costela. O mesmo disparo - feito a longa distância - saiu pelo lado esquerdo do coração, próximo da sexta costela. A perícia também indicou que ele foi ferido na mão direita.

- O tiro entrou pela base do terceiro dedo e quase decepou o polegar. Pela posição, dá a impressão de que ele carregava alguma coisa - disse Ancellotti.

Moradores do Morro do Pinto suspeitam que os soldados atiraram contra Eduardo porque confundiram o guarda-chuva que ele segurava com um fuzil. O rapaz estava com amigos e iria se matricular em um curso de fotografia.

- Que polícia é essa que confunde um guarda-chuva com um fuzil? Essa violência tem de acabar - emocionou-se Edna dos Santos, 67 anos, avó de Eduardo.

Amparada por amigos e familiares, Edna cobrava por justiça durante o enterro do neto. Cerca de 30 pessoas acompanharam a cerimônia. O técnico de audiovisual, Robson dos Santos, 29 anos, tio do adolescente, disse que a família ainda não foi procurada por representantes do Exército ou do Estado. Segundo Robson, Eduardo era órfão e morava com ele e a avó em São Gonçalo. Fã da Escola de Samba Estácio de Sá, o rapaz foi para casa de um tio no Morro da Providência porque pensava que a escola desfilaria sábado. Ele chegou a assistir ao desfile das campeãs.

- Ele (Eduardo) estava ansioso para se alistar no quartel. Estava na sétima série e como todo jovem pensava em pegar um rumo na vida. Era um rapaz pacato - lamentou Robson.