Título: Tropas reforçam ocupação
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, Rio, p. A6

Depois do confronto entre traficantes e militares que culminou na morte do estudante Eduardo dos Santos, 16 anos, na manhã de segunda-feira, a ocupação militar no Morro da Providência, no Centro, mudou de estratégia. O Comando Militar do Leste (CML) enviou um reforço de 200 homens para o local, dobrando o efetivo para 400 soldados. Em vez de ficar de prontidão em pontos específicos da comunidade, o contingente iniciou uma varredura em todos os becos do morro. Lajes foram usadas como trincheiras. Caixas d'água foram revistadas. Para vasculhar cada viela da comunidade, os militares usavam as casas das pessoas como passagem. Solicitaram a identificação dos moradores, reviraram possíveis esconderijos, e nem crianças foram poupadas da revista.

Os dois caminhões abarrotados de militares vindos do 2° Batalhão de Infantaria chegaram por volta das 14h. Em poucos minutos, as fileiras de homens armados foram organizadas na Ladeira do Barroso, onde uma imensa escadaria leva à parte superior do morro. Parte do efetivo ficou na Praça Américo Prum, onde um jogo de futebol de meninos da comunidade teve de ser suspenso para que a tropa usasse a quadra como estacionamento das viaturas.

Assustados com a presença dos 400 homens de fuzis em punho, moradores se trancavam em casa com medo. Da janela, uma mulher lamentou:

- Eu não entendo porque tudo isso. Tenho muito medo. Enquanto todos esses soldados estiverem aqui, não deixo meus filhos saírem de casa - disse.

Mãe de duas crianças, uma de oito e uma de seis anos, a moradora não leva os filhos à escola desde a morte de Eduardo, por medo de novo conflito.

Ao longo do dia, o clima na comunidade foi tenso, mas não houve troca de tiros. Por volta das 4h, bandidos lançaram uma granada de fabricação caseira contra os militares. O artefato explodiu, mas ninguém ficou ferido.

Relações-públicas do Comando Militar do Leste, o tenete-coronel Fernando Lemos admitiu que, para buscar suspeitos armados, os militares podem usar as casas como rotas, mas garantiu que a tropa não está autorizada a entrar nas residências sem mandado de busca e apreensão.

- Enquanto o Exército estiver lá, eles têm de efetuar as buscas. Muitas casas se confundem com as lajes e becos das favelas, mas a tropa garante a segurança da população. Nenhum direito humano será violado - observou.

O tenente-coronel lembrou ainda que o cumprimento dos mandados de busca e apreensão estão sendo planejados, para garantir a segurança tanto dos moradores quanto da própria tropa.

O Morro da Providência, no Centro, é um dos nove morros ocupados por uma força-tarefa formada pelo Exército e pela Secretaria de Segurança Pública, que busca 10 fuzis roubados por criminosos no quartel de São Cristóvão. Segundo o Comando Militar do Leste, a ocupação - que já mobiliza 1.600 soldados - vai durar até que o armamento seja recuperado. Em cinco dias de operação, nenhuma arma foi localizada.