Título: Juros reais seguirão elevados
Autor: Mariana Carneiro e Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, Economia & Negócios, p. A19

Mesmo se a aposta mais otimista do mercado financeiro se confirmar e o Comitê de Política Monetária (Copom) optar pelo corte de 1 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) hoje, o Brasil não perderá a ampla vantagem que tem sobre os outros países no ranking das maiores taxas reais do mundo. Os diretores do BC decidem hoje o corte na taxa Selic, atualmente em 17,25% ao ano. A taxa real no Brasil é de 12,8% ao ano, mais do que o dobro da cobrada no México, o segundo colocado, segundo o economista-chefe da consultoria GRC Visão, Jason Vieira. Se o Copom cortar 1 ponto percentual na Selic, o país chegaria a 11,8% ao ano em termos reais, de acordo com estimativa de inflação para os próximos 12 meses da maioria dos analistas ouvidos pelo Banco Central na pesquisa semanal Focus, divulgada na segunda-feira (4,42% para o IPCA).

- O Brasil teria que cortar 7 pontos na taxa nominal para chegar ao México. E não vejo a possibilidade de mudança nessa liderança em 2006 - avalia o economista, apesar da esperada redução da taxa neste ano. - Mesmo se chegarmos a 15%, seguiremos encabeçando a lista.

É a taxa de juros real - descontada a inflação - que indica o custo do dinheiro captado pelas empresas na hora de fazer investimentos. Quanto maior a taxa, menos a vantagem em se investir.

- Se o BC tivesse cortado a taxa antes, teríamos outro cenário hoje para emprego e crescimento - afirma, prevendo corte de 0,75 ponto hoje.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, prevê, no entanto, ''uma reunião mais animada''. Ele crê que o BC reduzirá a Selic para 16,5% ao ano.

A inflação corrente em queda - evidenciada pela deflação verificada no IGP-DI em fevereiro, de 0,06%, divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas - e o crescimento pífio apresentado no ano passado deverão convencer os diretores do BC, segundo Agostini, de que é hora de pisar no acelerador no corte da taxa.

Apesar da redução na Selic, os efeitos vão demorar a chegar às taxas de juros pagas pelo consumidor no crediário e no cartão de crédito. Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), em fevereiro, grande parte das linhas de crédito ao consumidor continuou em alta. Isso porque a inadimplência e a forte demanda por crédito estão neutralizando no comércio a redução da Selic.