Título: Aids cresce entre mulheres e usuários de drogas no Brasil
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, País, p. A-5

O Boletim Epidemiológico Mundial 2004, divulgado ontem pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), faz dois alertas ao Brasil. Um deles já é conhecido e aponta que o país segue, nos últimos dois anos, a tendência de aumento do número de mulheres infectadas com o vírus, principalmente devido ao crescimento de casos de transmissão do vírus em relações heterossexuais. O avanço é silencioso e cercado de tabus.

O segundo alerta é uma novidade, mas não menos delicada: o Brasil também começa a ter elevação no número de casos entre usuários de drogas e precisará criar um modelo de atendimento para este grupo, se não quiser comprometer o modelo de prevenção e tratamento implementado até agora.

De acordo com o documento, mais de um terço dos 1,7 milhão de portadores do HIV na América Latina vive no Brasil. Em todo o Planeta são hoje 39,1 milhões portadores do vírus HIV, sendo que o crescimento maior foi entre as mulheres, que representam, neste ano, 47,3% do total de adultos com HIV, uma incidência recorde - 17,6 milhões de um total de 37,2 milhões de adultos.

Segundo a vice-diretora-executiva da Unaids, Kathleen Cravero, o Brasil precisa se comprometer a deter o avanço da doença entre os usuários de drogas. De acordo com a BBC Brasil, Katleen disse que o grande problema neste caso é que eles formam um grupo que não é ''politicamente popular''. Por isso, não existe muito interesse em cuidar dessa questão.

Segundo Kathleen, o Brasil está caminhando para a mesma encruzilhada em que a Tailândia se encontra.

- Você precisa olhar os usuários, criar uma forma para que não procurem o submundo para compartilhar uma seringa entre dez pessoas, porque estão com medo de procurar ajuda - alertou.

O representante da ONU no Brasil para lidar com o assunto, Giovanni Quaglia, admite que essa é um das modalidades de transmissão que mais cresce. No país, rm em algumas regiões, mais da metade dos novos casos de Aids ocorre em usuários de drogas. Novamente, o problema é mundial. De acordo com o boletim, o número de usuários de drogas injetáveis infectados passou de 8 milhões, em 2003, para 13,5 milhões, em 2004.

O relatório da Unaids, entretanto, destaca algumas ações positivas no Brasil, em especial o programa de redução de risco adotado em Salvador (BA). O estado conseguiu diminuir o número de infecções em usuários de drogas. O número, que era de 50% em 1996, caiu para 7% em 2001. A redução foi resultado de um programa para oferecer seringas descartáveis aos viciados e também da substituição de drogas injetáveis por entorpecentes de outros tipos.