Título: Candidatura própria divide PMDB
Autor: Eruza Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2006, Brasília, p. D3

A saída do governador Joaquim Roriz da disputa eleitoral embaralhou o jogo político na capital da República. A decisão surpreendeu os adversários e, ao mesmo tempo, deixou os aliados em situação complicada. A bancada PMDB no Distrito Federal, por exemplo, está se sentindo órfã. No primeiro encontro com a Executiva local, realizado ontem no Hotel Nacional, os parlamentares desfiaram um rosário de lamentações. Todos estão insatisfeitos com a postura adotada pelo chefe do Executivo. O descontentamento provocou uma discussão acalorada entre o segundo tesoureiro do partido, Fábio Simão, e o chefe da Agência de Infra-estrutura e Desenvolvimento Urbano, Tadeu Filippelli, pré-candidato do PMDB ao Palácio do Buriti. A troca de acusações foi motivada pelas pesquisas eleitorais. De acordo com Simão, os números mostram que o correligionário ainda não decolou na intenção de votos junto ao eleitorado brasiliense e atinge patamar de 2%.

- O PMDB deve ter a responsabilidade de não se lançar numa aventura, apoiando uma campanha que não alavanca. Se fizer isso, sacrificará todo o partido - disse Simão, referindo-se ao Filippelli.

Resposta - As acusações despertaram a fúria do pré-candidato, que resolveu contra-atacar. Filippelli afirmou que no último levantamento o seu nome não foi colocado entre os potenciais candidatos ao governo do DF. Disse ainda que encomendou uma pesquisa qualitativa ao Ibope e o resultado revela que sua candidatura é viável e pode emplacar nos próximos meses.

- Sempre tomei o cuidado de não envolver o partido numa aventura. Prova disso é que concordei com a entrada do deputado federal José Roberto Arruda (PFL) no PMDB. Dei uma demonstração de grandeza, mas a filiação acabou não dando certo - defendeu-se Filippelli, poucas horas depois de dizer que o pefelista tem um traço de desconfiança no eleitorado por não cumprir acordos.

Os deputados João de Deus e Ivelise Longhi saíram em defesa de Filippelli. O secretário de Infra-estrutura e Obras, Rôney Nemer, também engrossou o coro. Afirmou que prefere subir no palanque do peemedebista e eventualmente perder do que apoiar Arruda e ser, em seguida, traído.

Em tom de brincadeira, os participantes falaram da pré-candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa. Ninguém leva a sério o pleito do correligionário, que se aproxima de Filippelli na intenção de votos do eleitorado local.

Insatisfação - A forma como Roriz trata a bancada do PMDB na Câmara Legislativa também foi discutida no encontro. A ex-líder do governo e deputada Eurides Brito chegou a afirmar que todos os parlamentares são mulheres de malandro, que apanham mas se mantêm fiéis ao governador. Roriz não só demora a atender os pleitos dos aliados, como nem sempre os recebe em audiência.

O motivo é simples e foi lembrado pelo secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Pedro Passos. Segundo ele, o governador tem um patrimônio político incontestável que acaba amedrontado os distritais, uma vez que ninguém tem coragem de enfrentá-lo. Mas Passos reconhece que a capacidade de transferência de votos de Roriz é limitada, principalmente se mantiver a decisão de continuar à frente do GDF e se afastar da vida política.

Apesar da insatisfação, a Executiva regional entregou ontem uma moção ao governador pedindo que ele seja o candidato natural do partido ao Senado ou a outro cargo.