Título: Contrabando diplomático
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, País, p. A3

A Polícia Federal prendeu ontem seis integrantes de uma quadrilha suspeita de realizar contrabando de bebidas e artigos de luxo no Distrito Federal. A investigação, feita em conjunto com a Receita Federal, constatou entre os suspeitos o envolvimento de funcionários do Ministério das Relações Exteriores e de um funcionário da Brasif, uma das principais importadoras do país. Usavam a imunidade tributária e o nome emprestado de diplomatas para comprar produtos importados sem impostos. Revendiam, então, a preços três vezes maiores. Os consumidores dos produtos são altos servidores públicos que trabalham em Brasília, políticos e empresários da capital, da Bahia e de Goiás.

Há pelo menos 22 funcionários de embaixadas suspeitos de participar da fraude. Os nomes e irregularidades que praticaram serão informados ao Itamaraty por gozarem de imunidade diplomática, além de só responderem às leis de seus países de origem.

As irregularidades foram detectadas pela Receita Federal há cerca de um ano, quando a inspetora Lúcia Leal descobriu que embaixadas pequenas compravam quase dez vezes mais bebida que as grandes.

A campeã, conforme a investigação da Receita e da Polícia Federal, é a Embaixada de Angola, que comprou cerca de 9 mil litros de uísque nos dez últimos meses. Além de Angola, estão envolvidas nas fraudes as representações do Congo, Gabão, Iraque, Senegal e Síria.

Na operação batizada de Safari, a PF prendeu os contrabandistas Alzair de Aquino, Zuhair Murdash e Angela Bernardino; os comerciantes Manoel de Aguiar Costa e Jonas Garcez; e o servidor do Itamaraty Hamilton dos Reis.

Conforme o inquérito policial, os nomes de servidores e das embaixadas como pessoas jurídicas eram usados para importar produtos pela Brasif.

Segundo o delegado Paulo Moreira, que coordenou a investigação, funcionários das embaixadas faziam a compra e retiravam a mercadoria na Brasif. Em seguida, repassavam os produtos para os contrabandistas e comerciantes. A Brasif negou os crimes e informou estar pronta a colaborar com as autoridades e aguardar a conclusão das investigações para esclarecer o assunto.