Título: PSDB consulta governadores sobre candidato ao Planalto
Autor: Ana Maria Tahan
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, País, p. A4

O governador Geraldo Alckmin foi claro e conciso: não abre mão de disputar, no partido, a indicação de candidato a presidente da República. A comunicação, feita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e ao governador de Minas, Aécio Neves, obrigou o comando da legenda a ampliar o leque de envolvidos na escolha. Os governadores serão consultados no fim de semana sobre como resolver o impasse provocado pelo desejo coincidente de Alckmin e do prefeito de São Paulo, José Serra, ambos interessados em entrar na corrida eleitoral pelo Planalto. A escolha de um ou de outro será comunicada na terça-feira. ¿ Anunciamos nossa decisão, em caráter definitivo, depois do fim de semana ¿ confirmou Jereissati ao deixar a sede da prefeitura paulistana no fim da tarde de ontem, depois da segunda e difícil conversa do dia.

Aécio assumiu a tarefa de ouvir os cinco outros administradores estaduais tucanos. A ampliação da consulta foi uma exigência de Alckmin. Durante o encontro no Palácio dos Bandeirantes, os caciques do PSDB souberam que ele estava disposto a brigar, no partido, pela indicação. Sugeriu que procurassem Serra e recebessem dele uma resposta clara sobre a intenção de disputar também a indicação. Caso positivo, ele, governador paulista, sugeria que aumentassem o colegiado decisório. Alckmim falou até em antecipar a convenção nacional que sacramentará a escolha tucana.

Como Tasso anunciou, depois da reunião com o prefeito, que os governadores também vão opinar, é certo que Serra confirmou o interesse em enfrentar novamente o presidente Lula na campanha eleitoral.

Ainda há outras peças nesse tabuleiro tucano. Como Alckmin lembrou ao triunvirato emplumado, caso desistisse da corrida ao Planalto e optasse pela disputa do governo paulista, Serra também teria de enfrentar um colega contrário à desistência por antecipação do jogo: o vereador José Aníbal. O que obrigaria o partido, também em São Paulo, a abrir o leque de consultas internas ou a antecipar a convenção regional.

Desde o início do processo de consultas internas, o prefeito paulistano deixou claro que só entraria em campo caso ungido pelo partido como candidato. Não estava disposto a enfrentar uma disputa interna, até para não correr o risco de ver minguar cabos eleitorais importantes e essenciais durante a campanha.

Concorrências entre pares, ensina a História, sempre deixam mágoas e rancores disfarçados e perturbam ambições políticas antes mesmo de deslanchar a corrida por votos nacionais. Daí a insistência de Serra pela unidade interna em torno de seu nome.

O fato de os governadores se somarem aos caciques tucanos no fim de semana não quer dizer que tudo terminará bem para o partido. Pesquisas internas ou divulgadas por institutos de pesquisa nos últimos dias revelam que Serra tem uma performance melhor do que Alckmin no embate com Lula.

O comando, contudo, foi alertado por cientistas políticos de que o prefeito tem um teto de crescimento, entre 30 a 33% do eleitorado. O que o levaria, hoje, a não atingir índices suficientes para superar Lula no segundo turno. Alckmin, com índices mais modestos, tem a seu favor o fato de que é pouco conhecido nacionalmente e, por isso mesmo, tem rejeição menor. Bem trabalhado durante a campanha, poderia superar o teto de Serra, ouviram os tucanos. São os argumentos favoráveis, a um e a outro, que ambos esgrimiram nas conversas com Fernando Henrique, Tasso e Aécio e vêm reforçando nos contatos com os governadores. Por tudo isso, não dá para arriscar para qual lado vão pender entre este sábado e a segunda-feira.