Título: CPI fecha o cerco a Sereno
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, País, p. A5

O relatório final da sub-relatoria está perto de apontar o ex-secretário de Comunicação do PT e ex-assessor da Casa Civil Marcelo Sereno como responsável pela ingerência nos fundos de pensão com as irregularidades encontradas durante a investigação.

Em três horas de depoimentos, Sereno negou à comissão que tivesse poder no processo de indicação dos dirigentes dos fundos de pensão. Quando assessor da Casa Civil, disse que exercia a função ''burocrática'' de encaminhar as nomeações para os cargos.

A maioria delas, de acordo com Sereno, chegava às suas mãos apenas para ser referendado. A indicação da diretoria da Nucleos (Fundo de Pensão dos Funcionários da Eletronuclear), por exemplo, passou pela Casa Civil, mas Sereno afirmou que não interferiu no processo decisório.

O sub-relator de fundos de pensão, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), não se disse convencido da inocência de Sereno e informou que se ele participava do processo de indicação deve responder também pelas perdas nos investimentos.

- É inegável que o ex-ministro José Dirceu e o senhor Marcelo Sereno tiveram participação conclusiva na determinação de dirigentes de fundos. Ficou claro que o Sereno participou direta ou indiretamente das indicações dos fundos - disse ACM Neto.

O sub-relator de admitiu limitações para que a comissão investigue os prejuízos contabilizados pelo Nucleos. Ontem, durante acareação entre três ex-funcionários do fundo - a ex-gerente Fabiana Carneiro Carnaval, o ex-diretor de Investimentos Gildásio Amado Filho e o ex-presidente da instituição Paulo Roberto de Almeida Figueiredo -, permaneceram as dúvidas sobre as responsabilidades pelos investimentos da entidade em títulos públicos, que geraram prejuízos próximos a R$ 22 milhões.

Os três se eximiram de responsabilidades, mas são apontados como réus em processo movido pela atual diretoria do Nucleos e serão responsabilizados no relatório final da comissão.

- A solução é responsabilizar a todos. Como e de que forma serão indiciados, será estudado - disse ACM Neto.

O depoimento de hoje foi o último da sub-relatoria de um total de 24 reuniões e 66 pessoas ouvidas. No relatório final, ACM Neto deve indicar ao Ministério Público e ao STF (Supremo Tribunal Federal) linhas de investigação que precisam ser aprofundadas. Na opinião do deputado, o assunto mereceria uma nova comissão parlamentar de inquérito.

Em nota, a construtora Norberto Odebrecht rechaçou informações a respeito do investimento no Complexo Turístico Costa do Sauípe que envolvem possíveis irregularidades no Fundo de Pensão Previ. De acordo com a nota, a Previ fez oferta individual de R$ 220 milhões através de sua carteira imobiliária, com preço fechado. Pelo contrato, 50% do valor do terreno seria investido pela Odebrecht - R$ 8,22 milhões - com participação de 3,74% do negócio que posteriormente seria comprado pela Previ, que assumiria o negócio com parceiros.

Em novembro de 1999 a Previ decidiu trocar os operadores hoteleiros. Os novos operadores exigiram mudanças no projeto, o que gerou custo adicional de R$ 90 milhões.