Título: Polícia ocupa favela no Catete
Autor: Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, Rio, p. A6

Uma denúncia de que as armas roubadas do Exército estariam no Morro Santo Amaro, no Catete, transformou a madrugada de ontem em um verdadeiro pesadelo para os moradores do bairro. A reação dos traficantes, que reagiram a tiros e granadas a uma operação da Polícia Militar, levou pânico à região. Os disparos acordaram a vizinhança por volta das 3h30, e a ação durou até o amanhecer, quando moradores eram revistados ao passarem pela Rua Pedro Américo, fechada para o trânsito de veículos. Apesar de três pessoas detidas e algumas armas apreendidas, os dez fuzis e a pistola furtados do Estacelecimento Central de Transportes (ECT) do Exército, em São Cristóvão, há oito dias, não foram recuperados.

- Acordamos com o som da granada e do helicóptero, que parecia estar sobre a nossa casa - contou uma moradora da Rua Pedro Américo, que não quis se identificar. - Eu e meu marido passamos a noite agachados, no quarto de empregada, com medo de sermos atingidos. Quando ele saiu para trabalhar, às 5h45, a rua estava fechada e as pessoas eram revistadas. Vou ficar com meu coração na mão até ele chegar.

Segundo o tenente-coronel Aristeu Leonardo, relações-públicas da PM, o 2º BPM (Botafogo), e os batalhões de Operações Especias (Bope) e de Choque participaram da ação, que só terminou às 8h30. A informação de que as armas do Exército estariam no morro chegou pelo Disque-Denúncia. De acordo com Leonardo, a polícia fez a incursão no morro com vários objetivos. Um deles, seria prender o gerente do tráfico no Santo Amaro, Humberto Ferreira da Silva, o Beto, que é acusado de ser o responsável pelos pontos de venda de drogas na comunidade.

O tiroteio durou cerca de 40 minutos e pôde ser ouvido até por moradores da Rua Bento Lisboa.

- Acordei com aquela barulheira, parecia uma guerra - contou a dona-de-casa Adi Maria Lopes, 75 anos, dez deles vividos na Bento Lisboa.

Uma moradora do morro, que desde 1970 vive no Santo Amaro, disse não se lembrar de uma noite tão violenta.

- Foi tiro demais, quase a noite toda. Ficamos todos deitados, cada um no seu canto, com muito medo - desabafou.

Ontem à tarde, mais de 12 horas depois do início da operação, PMs do 2º BPM e do Grupamento Especial Tático Móvel (Getam) ocupavam a Rua Pedro Américo e o Morro Santo Amaro. O principal objetivo era conter manifestações de moradores, possivelmente insufladas pelo tráfico.

Segundo a PM, foram apreendidos na operação 1.102 trouxinhas e 250 gramas de maconha; 225 sacolés de cocaína; uma espingarda calibre 22, uma réplica de um revólver Colt 45, dois facões e uma espada samurai. Quatro pessoas foram detidas e levadas para a 9ª DP (Catete). Uma delas foi liberada e as outras três eram menores de idade. Pela manhã, o comandante-geral da PM, Hudson de Aguiar, esteve no Santo Amaro e acompanhou a detenção do grupo.