Título: Câmbio opõe Levy e Meirelles
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, Economia & Negócios, p. A20

Depois dos juros altos, agora é a política cambial que coloca em choque o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ontem, o chefe das contas do governo federal admitiu desconforto com a estratégia do Banco Central de conter a pressão de baixa do dólar via operações com títulos remunerados pela taxa básica, a Selic. O BC faz o chamado swap cambial reverso trocando contratos futuros atrelados ao câmbio por títulos indexados à Selic. No mercado financeiro, o mecanismo é interpretado como forma de o BC conter o recuo do dólar. No fim do ano passado, o BC chegou a colocar cerca de US$ 2 bilhões por semana em títulos ligados à taxa básica, em troca de compromissos cambiais.

Já o Tesouro tem como meta este ano reduzir a parcela da dívida pós-fixada (ligada aos juros básicos da economia), depois de ter debelado o passivo atrelado ao câmbio, este ano. A fatia remunerada pela Selic representava a metade da dívida do governo no fim do ano passado. O objetivo, em 2006, é que o percentual seja reduzido para entre 40% e 45% da dívida pública mobiliária.

- É uma decisão autônoma do Banco Central e não coordenada à gestão da dívida pública - afirmou Levy. - A atuação do BC vem sendo no entendimento de que a administração da dívida pública é uma coisa que não lhe diz respeito.

O secretário do Tesouro se fia na perspectiva de redução da taxa de juros para criar um ambiente favorável à compra de títulos prefixados. Em janeiro, esses títulos representavam pouco mais de um quarto da dívida do governo. Levy reafirmou perspectiva de outros integrantes do governo de que a taxa de juros real - descontada a inflação - deverá chegar a um dígito ao fim do ano.

No ano passado, a política de juros altos para conter a inflação já havia colocado frente a frente os dois integrantes da equipe econômica. Isso porque os juros elevam o passivo do governo.

Desmentindo informações dadas pelo Planejamento durante a semana, Levy negou que já tenha sido indicado formalmente para a vaga no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e repetiu que a saída do Tesouro depende do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Levy esteve ontem na Fundação Getulio Vargas do Rio (FGV-RJ) para uma aula aos alunos dos cursos de graduação. Ele aproveitou para criticar os projetos de lei aprovados na quinta-feira no Senado, que criam a aposentadoria para donas-de-casa e acabam com o fator previdenciário.

- Não sei como essa decisão vai evoluir, mas serve para reflexão da sociedade. Se não tiver ajustes, o déficit da Previdência põe em risco o pagamento de benefícios no futuro - disse Levy, alertando ainda que, quanto maiores gastos públicos, menor o investimento do governo.