Título: Quadrilha ligada a embaixadas faz contrabando no DF
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, Brasília, p. D3

A Polícia Federal prendeu ontem uma quadrilha suspeita de realizar contrabando de artigos de luxo no Distrito Federal. A investigação, feita em conjunto com a Receita Federal, constatou o envolvimento de funcionários do Ministério das Relações Exteriores e da Brasif, uma das principais importadoras do País. Eles usavam a imunidade tributária dos diplomatas para comprar produtos importados sem impostos e revendiam a mercadoria, a preços três vezes maiores. A operação começou no ano passado, quando a Receita desconfiou do aumento na venda de bebidas aos diplomatas. Segundo a inspetora da Alfândega no Distrito Federal, Lúcia Corrêa Leal, uma embaixada de pequeno porte chegou a comprar 9 mil litros de uísque em dez meses por mês. Como uma embaixada de grande porte consome, em média, 90 litros por mês, a Receita desconfiou da compra exagerada. As cinco embaixadas envolvidas gastaram mais de 500 mil dólares, cerca de R$ 1 milhão, com bebidas alcoólicas em 10 meses.

Em levantamento feito pela Receita, a Polícia Federal identificou os envolvidos e confirmou as suspeitas com filmagens.

- O contrabando é grande. De fato houve a conivência da Brasif e também a participação de um funcionário do Itamaraty - informou o delegado.

A operação teve início na manhã de ontem. O primeiro mandado de busca e apreensão foi cumprido na residência de Zuhair Murdash e Ângela Rodrigues. Na casa do casal, a polícia apreendeu mais de mil frascos de perfumes. A mercadoria foi avaliada em mais de R$ 300 mil.

Murdash e Ângela foram presos e vão responder por crime de formação de quadrilha, contrabando, além de corrupção ativa e passiva. De acordo com o delegado, somadas todas as penas os acusados podem pegar até 10 anos de prisão.

A Polícia Federal acredita que cerca de 20 funcionários de cinco embaixadas estão envolvidos. Como têm imunidade diplomática, os nomes deles serão encaminhados ao Itamaraty. O Ministério deverá encaminhar o caso aos respectivos países para que cada um tome as providências legais. Os nomes das embaixadas investigadas não foram revelados.

Ainda conforme o delegado da PF, os contrabandistas pediam notas aos funcionários da importadora e as levavam ao Itamaraty. Servidores do Ministério autorizavam a compra em nome dos empregados das embaixadas. O delegado informou que uma garrafa de uísque chegava a ser comprada por nove dólares, cerca de R$ 20, e revendida por cerca de R$ 50. Alguns produtos, comprados sem impostos, eram revendidos com um lucro de até 300%.

A Polícia Federal continua investigando o caso. O próximo passo será a identificação das pessoas que compravam a mercadoria dos contrabandistas. Empresários de Goiânia, Brasília e Bahia estão entre os principais suspeitos.

Operação - Mais de 70 policiais participaram da ação. A operação foi batizada de Safári por conta do grande número de funcionários de embaixadas africanas envolvidos.

Justificativas - Em nota divulgada ontem, o Itamarati afirmou que está prestando o devido apoio à Polícia Federal e à Receital para apurar os fatos relacionados com investigação de contrabando. O Jornal do Brasil tentou entrar em contato com a Brasif, sem ter resposta.