Título: Paris de volta às barricadas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, Internacional, p. A13

Um dos símbolos da revolução estudantil de maio de 1968, que pregava o igualitarismo, o liberalismo e a liberação sexual, a Universidade de Sorbonne, no coração de Paris, voltou ontem a ser local de confronto entre policiais e estudantes. A batalha, agora, é por emprego.

Pelo menos 200 universitários ocupam o prédio desde a quarta-feira, numa pressão para que o governo desista do controverso Contrato de Primeiro Emprego (CEP), que tornará mais fácil às empresas demitir empregados menores de 26 anos. Outros 400 manifestantes tentaram invadir a Sorbonne para se juntar ao protesto - a maioria foi impedida pela polícia.

Os gendarmes formaram barricadas nas ruas vizinhas e usaram cassetetes, chutes e escudos para afastar os jovens. Mesmo assim, várias pessoas conseguiram entrar na universidade, usando escadas para alcançar e quebrar janelas, enquanto gritavam ''a Sorbonne é nossa''.

As barricadas foram ampliadas para as portas da instituição. Mais cedo, a polícia tinha tentado entrar no prédio, para retirar os estudantes em ''greve sentada''. Foram impedidos pelo reitor.

- Estas pessoas estão tentando transformar a universidade em um campo de batalha, não apenas pelas medidas de emprego, mas também por todos os problemas sociais da França - explicou Nicolas Boudot, diretor da reitoria.

Apesar da destruição da propriedade publica, até o prefeito de Paris, o socialista Bertrand Delanoe, parece estar ao lado dos manifestantes.

- Estou muito preocupado com o fato de a gendarmaria ter usado cassetetes - criticou Delanoe.

Além da Sorbonne, 44 das 85 universidades francesas realizam bloqueios e paralisações contra o CEP, segundo números do principal sindicato de estudantes (Unef). Para o Ministério da Educação, o protesto é menor: aponta que 10 centros estão parados, 20 com funcionamento ''alterado''.

Gilles de Robien, titular da pasta, classificou ainda as manifestações dentro das universidades como ''pouco democráticas'' e ''perigosas''.

- Queria pedir um espírito de responsabilidade. Os debates pode ser úteis, mas é inadmissível que dezenas bloqueiem o desejo da maioria que quer trabalhar - afirmou.

Os estudantes não se limitaram aos centros de educação para dar vazão ao repúdio à medida do premier Dominique de Villepin. Em Tours, 200 km a Sudeste de Paris, centenas de jovens invadiram os trilhos de uma estação ferroviária. O tráfego ficou interrompido por três horas.