Título: Berlusconi é indiciado antes de pleito
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2006, Internacional, p. A14

A promotoria de Milão pediu ontem que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e o advogado britânico David Mills sejam julgados por corrupção e falso testemunho. A um mês das eleições legislativas, este é um duro golpe para a imagem do líder político. Além da petição judicial, Berlusconi sofreu outro revés: o ministro da Saúde, Francesco Storace, renunciou ao cargo, por envolvimento num escândalo de espionagem política.

A ''sexta-feira negra'' do premier certamente terá um forte impacto na campanha eleitoral, marcada por grandes tensões entre a coalizão governamental de centro-direita e a coalizão de centro-esquerda ante as eleições de 9 e 10 de abril. As críticas ao governo pela questão ''moral'', tema de campanha da oposição, recebem um forte impulso num momento em que o líder de centro-esquerda, Romano Prodi, registra uma vantagem de cerca 4,5 pontos percentuais sobre a coalizão no poder.

Na Itália, um pedido de julgamento equivale a um procedimento de acusação. A promotoria afirma já dispor de elementos suficientes para demonstrar que uma transferência de US$ 600 mil efetuada em 1997 pela Fininvest - a holding da família Berlusconi - para uma conta bancária em nome de David Mills serviu para subornar o advogado. Mills prestou falsos depoimentos em dois julgamentos, no final dos anos 90, nos quais Berlusconi era réu.

O chefe de governo italiano, magnata das comunicações, e o conhecido advogado de negócios britânico, marido da ministra da Cultura, Tessa Jowell, foram acusados pelo tribunal. Os dois homens estavam ligados ao processo por fraude fiscal na Itália relacionado à compra dos direitos cinematográficos por parte do grupo audiovisual Mediaset, de propriedade de Berlusconi.

Os promotores suspeitam que o preço dos direitos cinematográficos foi artificialmente aumentado e aplicado através de intermediários no exterior, para evitar o fisco italiano.

Mills está envolvido na criação de companhias offshore e na abertura de contas bancárias em paraísos fiscais em nome da Fininvest. O escândalo provocou ainda o fim de seu casamento de 27 anos com a ministra britânica. Para seguir no governo do premier Tony Blair e salvar sua carreira política, Tessa anunciou, no sábado passado, que separou-se do advogado.