Título: Desafio tucano é mudar política econômica
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 12/03/2006, País, p. A5

Chegada a hora de os tucanos pararem de se bicar no ninho e alçarem vôo, o grande desafio do candidato escolhido, segundo cientistas políticos ouvidos pelo JB, será lançar um programa alternativo ao do PT mas que fuja também das diretrizes dos oito anos do governo Fernando Henrique - o recente legado que pode ser o currículo da legenda na campanha publicitária este ano. Nesse contexto paira o dilema do tucanato: se o governo Lula é visto como continuidade da política fiscal e monetária do anterior, o PSDB deve apresentar um projeto que prometa mudanças contra 12 anos de administrações, inclusive a do próprio partido.

- O PSDB tem que trazer uma proposta nova para o país. O próprio FH reconheceu isso num artigo recente. O partido teve um papel importante ao desatar o nó da inflação. Mas o país está estagnado há dez anos, precisa de um novo modelo econômico - avalia o cientista Antônio Celso Alves Pereira, ex-reitor da Uerj.

Coordenador da Pós-Graduação de Ciências Políticas na UFF, Eurico de Lima Figueiredo endossa o colega. Vê na política econômica o vilão dos governos atual e anterior. E será nele que o candidato tucano deve apostar caso queira entrar para valer na campanha.

- O PSDB precisa de um programa de governo que deve trabalhar a política de juros. O primeiro desafio é ajustar o mercado e o apoio à indústria. Como explicar que a economia vai bem e o desenvolvimento vai mal? - questiona Figueiredo, ao referir-se ao baixo desempenho do PIB brasileiro em 2005.

Fora do cenário econômico, o PT leva vantagem por ter Lula como candidato natural. Mas o eleitor, mais consciente da situação no país, vê-se ''perplexo porque a política econômica de Lula é a mesma de FHC'', explica Figueiredo.

- O PT leva vantagem porque Lula tem o poder e o palanque. A dúvida é se o candidato do PSDB será capaz de apontar a mudança, depois dos mandatos de FH.

Mesmo à sombra da era Fernando Henrique, a publicidade em cima dos feitos do ex-presidente é a saída em tempos que escândalos de corrupção atingem o atual governo, avalia Vânia Aieta, doutora em Ciências Políticas pela PUC-SP. O problema é que a chuva de denúncias também respinga no governo dos tucanos.

- Mas o PSDB deve continuar trabalhando nas ações contra as irregularidades

Tradicionalmente a lógica da ação e reação nas denúncias pode prevalecer na disputa entre PT e PSDB. Nesse sentido, o cientista Luiz Henrique Bahia alerta que, tanto petistas quanto tucanos, devem ter o cuidado de colocar na balança o peso dos dossiês.

- O PSDB também tem o problema da credibilidade. Se o partido criticar (o mensalão), é provável que haja rebate do PT citando o problema das privatizações (casos suspeitos na era FH). Se o PSDB tiver a certeza de que as provas são menores que as do PT contra eles, vai partir para a guerra.

Análises à parte, é certo que a incumbência mais difícil ficará a cargo dos marqueteiros para apresentar um candidato que se identifique com o eleitor. Serra ainda passa imagem de mal-humorado e Alckmin tenta ser engraçado, sem sucesso. A imagem do personagem é tão ou mais responsável pelo seu sucesso quanto a sua desenvoltura política, lembra Luiz Henrique Bahia.