Título: Definição de rumos
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, Opinião, p. A-10
Se em matéria de política social a pressa costuma ser inimiga da perfeição - como aconteceu no lançamento do Fome Zero -, na questão da reforma agrária a demora tem sido a grande parceira e o pior estímulo da violência. O massacre ocorrido em Felizburgo, Norte de Minas - cinco sem-terras mortos, 20 feridos e 30 barracos queimados por pistoleiros -, é o exemplo mais recente e mais dramático de que o retardamento na legalização de terras destinadas aos assentamentos da reforma pode acabar em tragédia. A maior ocorrida até agora nos dois anos de governo do Partido dos Trabalhadores.
Os fatos que envolvem a tragédia são conhecidos. Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, o governo de Minas já confirmou que as terras, onde as 150 famílias acampadas foram barbaramente agredidas, pertencem ao Estado. São devolutas e ocupadas por grileiros. Vinham sendo objeto de legalização para posteriormente serem destinada à reforma agrária. A chacina, então, é duplamente criminosa. E aconteceu principalmente porque o processo ainda tramita na Vara Agrária de Belo Horizonte.
O governo precisa urgentemente repensar os rumos da reforma agrária. Em primeiro lugar, deve deixar bem claro se continua a acreditar em sua eficácia como solução para os problemas no campo, tal como pregou ao longo de 20 anos em que o Partido dos Trabalhadores, na oposição, juntou o vermelho de sua bandeira às cores das expectativas do MST.
Caso contrário, o governo deve declarar que já não acredita mais na reforma, por julgar que o capitalismo que opera modernamente no campo, em escalas de produção cada vez maiores - de acordo com exigências do mercado mundial de alimentos -, decretou o esgotamento do modelo de repartição pública de terras. O homem do campo é que não pode esperar indefinidamente. Sobretudo, quando se acha sob a mira das armas.