Título: Mulheres africanas são alvo de campanha
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, Internacional, p. A-12
Elas já representam 60% dos adultos contaminados
BRUXELAS - Até agora o público-alvo das campanhas de prevenção e conscientização da Aids eram homens brancos homossexuais, mas a partir de agora serão as mulheres, principalmente negras africanas, afirmou o diretor do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (ONUAids), Peter Piot, que divulgou ontem em Bruxelas um relatório sobre a evolução da doença no mundo. A campanha educativa terá como objetivo combater a violência contra a mulher, apontada pelo informe como a maneira pela qual muitas das meninas em países em desenvolvimento têm sua iniciação sexual.
Piot confirmou que o maior aumento das infecções nos últimos anos foi registrado na China, nos países do Leste Europeu e na Ásia Central.
Segundo o documento, cerca de 39,5 milhões de pessoas no mundo são portadoras do HIV, o que representa um aumento significativo frente aos 36,6 milhões de dois anos atrás. Em 2004, o vírus se propagou numa velocidade nunca registrada: foram 4,9 milhões de novos infectados, 100 mil casos a mais que em 2003.
A África continua sendo o continente mais afetado. As vítimas são especialmente as mulheres negras, que representam 60% dos adultos contaminados (13,3 milhões). Tal panorama torna urgente a implementação de mecanismos de combate à violência sexual, segundo Piot.
Entre a população adulta, a maior parte as mulheres contrai a doença porque não tem nenhum tipo de controle sobre os parceiros, que as põem em risco.
A educação pode ter papel crucial no combate ao problema e um dos objetivos deve ser a escolarização das meninas e evitar o abandono escolar para combater a contaminação.
Embora o panorama atual não seja o melhor, há aspectos positivos na luta contra a doença, como o aumento dos países onde diminuiu o número de infectados, o forte compromisso político de muitos deles e o incremento dos fundos destinados a combater a epidemia. Este ano foram dedicados 6 bilhões de euros.
Piot lembrou, por outro lado, que hoje só um de cada 10 portadores da doença tem acesso ao tratamento, mas confiou que a cifra pode aumentar a partir do próximo ano nos países em desenvolvimento.
Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai seguiram a tendência, registrando aumento de casos por transmissão heterossexual.
- Isto significa que cada vez mais mulheres e crianças são contaminadas, o que reforça a necessidade de que estes setores recebam mais informação e ajuda para se prevenir - advertiu em Buenos Aires o coordenador da ONUAids para a região, Laurent Zessler.
Uma situação similar é registrada no Brasil, onde vive um terço das 1,7 milhão pessoas que têm Aids na América Latina. Quanto à Argentina, a boa notícia é que a melhora da qualidade de assistência reduziu a mortalidade dos que têm HIV, o que não significa que o avanço da epidemia tenha diminuído.
No entanto, Lorena Di Giano, da Rede Argentina de Pessoas Vivendo com HIV, denunciou a falta de entrega de remédios e exigiu a renúncia da diretora do Programa Nacional de Luta contra a Aids, Gabriela Hamilton. O Ministério da Saúde rebateu e disse estar cumprindo sua responsabilidade.