Título: Cesar deixa Bangu sem presídio
Autor: Florença Mazza e Júlio Lubianco
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, Rio, p. A-13

Um novo bairro, para separar de Bangu a sua pior parte: os presídios. Para isso, o prefeito Cesar Maia assinou ontem a lei que cria o bairro de Gericinó, na Zona Oeste. A medida atende a uma antiga reivindicação de moradores do bairro, preocupados com o estigma da associação de Bangu com o complexo penitenciário da região. Além das 17 unidades prisionais, com uma população estimada em 11 mil pessoas, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), o bairro de Gericinó engloba ainda um aterro sanitário, parte da Serra de Gericinó e a sede do 14º BPM, responsável pelo policiamento na região de Bangu.

Na prática, a criação de Gericinó em nada altera a rotina de moradores de Bangu e do novo bairro, que vai continuar integrando à 17ª Região Administrativa da prefeitura. Não há nenhum novo projeto urbanístico para o bairro e, até o fim da tarde de ontem, a prefeitura sequer possuía um mapa com os limites de Gericinó. A medida é simbólica e, segundo o próprio prefeito, não pode mudar o jeito como as pessoas se referem aos presídios da região.

- Pode ser um ato ilusório, mas quando mudaram o nome da Rua Montenegro para Vinícius de Moraes, em Ipanema, também achei que não ia pegar, mas pegou - lembrou Cesar.

Segundo o prefeito, o novo bairro, por suas características, precisa de uma administração específica e integrada, com auxílio da Seap. Cesar aproveitou a assinatura da lei para sugerir novas formas de se referir às unidades do complexo penitenciário.

- Já que o povo gosta de apelidos, os presídios poderiam passar a ser chamados de Geri 1 e Geri 2 - brincou.

Segundo Cesar Maia, a prefeitura ainda vai designar uma autoridade para definir quais intervenções serão feitas no novo bairro. Por enquanto, elas se limitam a um programa de Favela-Bairro que atua numa comunidade da região.

O arquiteto Mauro Almada, da ONG Viver Cidades, criticou a pouca eficácia da nova lei. Para ele, a criação do bairro de Gericinó, se não vier acompanhada de investimentos, não vai mudar em nada a realidade daquela região.

- A medida é puramente administrativa. O prefeito está começando pelo fim. Criar um bairro para quê? - indaga o arquiteto.

Almada observa ainda que o desenvolvimento daquela área torna-se ainda mais difícil pelo fato de estar distante do Centro da cidade, numa região pouco valorizada e sem infra-estrutura.

- Até mesmo as políticas de moradias populares hoje priorizam a ocupação de vazios urbanos próximos do centro - afirma.

Para Adilson Silva, diretor da União de Moradores de Vila Aliança, a mudança do bairro não deve influir na imagem de Bangu.

- Talvez a influência aconteça nas áreas mais próximas, mas não em todo Bangu. As outras regiões do bairro nem vão perceber. Acho que o que mudaria a nossa vida seria a retirada do presídio daqui - acredita.

Como a nova lei não estabelece nenhuma alteração quanto às normas de uso e ocupação do solo, o consultor de desenvolvimento urbano da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), David Cardeman, acredita que ela não vai causar grandes impactos no que diz respeito ao mercado imobiliário na região.

- O efeito psicológico de mudar o nome do bairro só aparecerá a médio e longo prazo. Os presídios, por muito tempo, ainda serão chamados de Bangu - acredita Cardeman.

Em maio, Cesar Maia também anunciou a criação de um novo bairro, na Zona Oeste, denominado Recreio de Guaratiba. A idéia do prefeito é transformar a região entre a Serra da Grota Funda e Sepetiba numa nova Barra da Tijuca, impulsionada pela construção do túnel que a ligará ao Recreio dos Bandeirantes.

As intervenções no local dependem, entretanto, do início das obras do Túnel da Grota Funda. Segundo o prefeito, os trabalhos esperam pela desapropriações e mobilização da concessionária para serem iniciados.