Título: Brasileiro foge da alta dos juros
Autor: Janaina Leite e Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, Economia, p. A-14

O brasileiro encontrou um novo jeitinho para fugir dos altos juros cobrados no cheque especial. É o crédito consignado, cujo desconto das parcelas incide direto na folha de pagamento do tomador. Com risco menor, os bancos têm cobrado menos por esse tipo de empréstimo. Dados do Banco Central (BC), divulgados ontem, demonstram que em outubro as instituições financeiras cobraram juros médios de 39,1% ao ano em operações consignadas, e se mantiveram estáveis em relação a setembro. No mesmo período, a taxa do cheque especial batia 141,1% anuais (contra 140,6% em setembro). Na virada do mês, o volume de empréstimos na modalidade chegou a R$ 10,92 bilhões, acumulando alta de 73% no ano.

Mesmo assim, a taxa de juros média cobrada pelos bancos acompanhou os aumentos consecutivos da Selic e saltou de 45,7% para 45,9% ao ano em outubro contra setembro. Para as empresas, as taxas subiram de 30,4% para 31,1% ao ano. Pessoas físicas continuaram pagando percentual semelhante ao de setembro (em média, 63,2% ao ano).

O spread bancário - diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos no mercado e o que cobram para emprestar o dinheiro - continua como primeiro na lista dos maiores praticados no mundo. O spread médio de outubro correspondeu a 28,1 pontos percentuais, frente a 27,7 pontos contabilizados em setembro.

- Não vejo muita razão para a alta do spread, tendo em vista a redução da inadimplência - observou o chefe do Departamento Econômico do BC. Para Altamir Lopes, os bancos têm embutido uma expectativa de taxa de captação mais elevada do que a real, o que estaria inflando o spread bancário. - Mas isso é pontual - arriscou ele.

Apontada como uma das causas dos elevados spreads praticados no Brasil, porém, a inadimplência dos empréstimos bancários atingiu, no mês passado, o nível mais baixo desde setembro de 2001. Os brasileiros reduziram a inadimplência em operações fechadas com os bancos. A taxa geral caiu de 7,5% para 7,2% entre outubro e setembro. No caso das pessoas físicas, o índice recuou de 13,4% para 12,7%. Junto às pessoas jurídicas, a retração foi de 3,5% para 3,4%.

- A inadimplência vem caindo muito. As famílias vêm usando a disponibilidade de recursos para limpar o nome, o que é fantástico - avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. - Há ainda uma tendência de migração para os créditos mais baratos, como a consignação. Como houve crescimento na oferta de emprego, deve haver cada vez mais expansão do crédito com desconto em folha.

Essas estatísticas não incluem os empréstimos cujas taxas de juros são controladas pelo governo, como o habitacional e o rural.

Segundo o BC, em outubro cresceu o volume de recursos emprestados pelo sistema financeiro nacional. Ao todo, nesse intervalo os repasses totalizaram R$ 472,9 bilhões. É um bom dinheiro - cerca de 26,9% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas pelo País).