Título: Países propõem trégua para aviões
Autor: Romoaldo de Souza
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, Economia & Negócios, p. A-18

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu como um avanço a rodada de negociações entre Brasil e Canadá para resolver um contencioso entre os dois países que tem quase dez anos. Em 1996, Embraer e a canadense Bombardier deram início a uma batalha comercial e jurídica que terminou na Organização Mundial do Comércio (OMC). O conflito começou quando o governo do Canadá passou a dar subsídios à Bombardier que ganhou fôlego para vencer concorrências internacionais contra a empresa de construção aeronáutica brasileira.

Três anos depois, a OMC decidiu pela ilegalidade da ação do governo canadense. Mas a empresa do Canadá também acusou o Brasil de dar subsídios à Embraer. A ajuda à empresa fabricante de aviões vinha se dando por meio do Proex, programa do governo federal destinado a financiar as exportações brasileiras de bens e serviços.

A batalha ainda se arrasta na OMC, mas ontem, depois de conversar com o primeiro-ministro canadense, Paul Martin, Lula reconheceu que chegou a hora de por um ponto final no litígio.

- Estamos aprofundando a compreensão e ampliando a confiança para a conclusão de um acordo no mais curto prazo possível - destacou.

Paul Martin também se manifestou favorável a que os problemas na área da indústria aeronáutica sejam resolvidos entre os dois países.

Lula disse que é hora de Brasil e Canadá se tornarem parceiros na construção de um crescimento comercial eqüitativo nas relações comerciais entre os dois países que têm interesses conjunto contra os subsídios.

- Partilhamos o objetivo de eliminar os subsídios milionários que distorcem o comércio agrícola mundial e impedem os pequenos agricultores de países em desenvolvimento de viver dignamente de seu trabalho - defendeu.

Convidado por Martin, Lula prometeu para o ano que vem retribuir a visita do primeiro-ministro canadense.

- Aceitei com satisfação o seu gentil convite para visitar o Canadá no próximo ano, quando daremos seguimento ao importante diálogo que tivemos hoje (ontem) - destacou.

Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, está na hora de colocar uma pedra sobre o passado e estabelecer algumas regras básicas em relação ao futuro.

- Houve autorização da OMC para retaliações, de um lado e de outro. Mas queremos, agora, fazer uma base zero nas questões do passado. Nós não queremos mais falar em retaliações - assegurou.

Além dos acordos comerciais, Brasil e Canadá também pretendem se mobilizar a fim de sensibilizar a comunidade internacional para acelerar a liberação de recursos para a reconstrução do Haiti.

Para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a situação do Haiti tem de ser tratada por três ângulos que se completam: ordem e segurança, reconciliação das forças políticas, e recursos financeiros.

- A situação do Haiti somente será resolvida se esse tripé estiver forte, mas é claro que os recursos serão importantes porque para o Brasil nem queremos dinheiro jogado na rua nem projetos muito demorados - ponderou.

Responsável pela aproximação de Lula com Martin, o chanceler Celso Amorim, disse que o objetivo do governo brasileiro é que Martin esteja para Lula como Jean Chrétian, ex-primeiro ministro canadense, estava para Fernando Henrique Cardoso.