Título: Ângela apela a Jesus Cristo e a Hitler
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, País, p. A5

A petista Ângela Guadagnin comparou o relator Cézar Schirmer à ''reencarnação de um Torquemada tupiniquim'' e ao ex-ditador Adolf Hitler. Ainda citou trechos bíblicos que relatam a crucificação de Jesus Cristo: - A forma pela qual o relator coloca as coisas afora as distorções já apontadas no recorte dos depoimentos acentua um tipo de malícia incompatível com a tarefa de julgar de forma isenta - disse a petista em seu voto.

Schirmer desceu do salto para defender o trabalho. Em 22 minutos, rebateu a defesa apresentada pela petista. Visivelmente transtornado com as críticas pessoais que Guadagnin utilizou no voto, o gaúcho retrucou. Disse considerar as manifestações a seu respeito como ''referências que não estão à altura do respeito que dedicou'' à petista:

- Vossa Excelência contestou até o evangelho de Lucas, na Bíblia. E impressionou pela extensão do seu voto. Mas vou desconsiderar tudo isto porque sei que estava apenas querendo defender um dos deputados mais brilhantes desta Casa - afirmou.

O peemedebista justificou que a citação dos pré-relatórios de auditorias e de fatos alheios ao pedido de representação foi utilizada apenas para nortear seus trabalhos. O foco da representação que chegou a suas mãos tratava de três denúncias: o saque feito pela mulher de João Paulo das contas de Marcos Valério, no valor de R$ 50 mil, as supostas irregularidades nos contratos de prestação de serviço da Câmara e ainda as ocultação e contradições durante a fase de depoimentos sobre as denúncias.

O documento preparado por Schirmer tem 68 páginas e foi considerado o mais brilhante voto apresentado até o momento no Conselho. Em seu relatório e voto, Schirmer listou oito fatos que basearam o pedido de cassação do mandato de João Paulo.

Segundo o relator, ''ao receber presentes e visitas inusitadas (por parte do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como principal operador do mensalão), o representado colocou o seu interesse pessoal à frente do interesse público de ser absolutamente impessoal e isento no trato da coisa pública''.

Schirmer diz ainda que João Paulo omitiu intencionalmente fatos e informações relevantes para o Conselho. Além disto, o relator acusa o deputado de ter utilizado para proveito próprio o contrato firmado entre a presidência da Câmara e a SMPB, empresa de Marcos Valério Fernandes.