Título: Brasil vende US$ 2 bi em carne
Autor: Riomar Trindade
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2004, Economia & Negócios, p. A-19

As exportações brasileiras de carne bovina totalizaram 1,5 milhão de toneladas - pelo conceito equivalente-carcaça, que envolve carne in natura e industrializada - nos primeiros dez meses deste ano, no valor de US$ 2,021 bilhões. Os dados divulgados ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) confirmam o Brasil, pelo segundo ano consecutivo, como o maior exportador mundial de carne bovina. De janeiro a outubro do ano passado, o Brasil exportou 1 milhão de toneladas de carne, gerando US$ 1,194 bilhão em divisas. No início deste ano, o presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, estimou que ao longo de 2004 o Brasil exportaria 1,5 milhão de toneladas e obteria um faturamento de US$ 2 bilhões.

- Esse resultado já foi alcançado nos dez primeiros meses do ano - afirmou ontem Nogueira.

Ele argumentou, no entanto, que a partir de agora novos crescimentos das exportações de carnes dependem muito de ajustes no mercado interno, ou seja, da melhor remuneração ao produtor. Pesquisa realizada pela CNA e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) mostra que ao mesmo tempo em que houve aumento de faturamento e de volumes exportados, o preço pago pelo boi gordo ao pecuarista não pára de cair no mercado interno. A análise considera a situação de nove estados - GO, MG, MT, MS, PA, PR, RS, RO e SP - que concentram 78% do rebanho nacional, de 190 milhões de cabeças.

De acordo com o estudo da CNA e Cepea/USP, entre janeiro e outubro o preço do boi caiu 2,13%, enquanto que os custos de produção (medidos pelo conceito de Custos Operacionais Totais - COT) subiram 9,04%.

- Os custos totais da pecuária de corte devem subir mais de 10% este ano. Seria preciso que o preço do boi recuperasse pelo menos essa perda para manter as margens do pecuarista - disse Nogueira. Segundo ele, de janeiro a outubro, por exemplo, os preços da suplementação mineral - que representa 15% dos custos da pecuária de corte - subiram 12,26%.

- Isso desestimula o produtor, que começa até mesmo a abater matrizes para cumprir seus compromissos, o que pode comprometer o crescimento do rebanho em médio prazo - afirmou Nogueira. Para evitar que seja firmado um cenário de desestímulo a investimentos no campo seria necessário haver o repasse, ao mercado interno, dos ganhos obtidos nas exportações. De janeiro a outubro deste ano, a tonelada da carne exportada ficou em US$ 2.141, preço 19% maior que o obtido no ano passado.