Título: Moradores da Zona Sul apreensivos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, Rio, p. A7

A pedagoga Lorena Pereira, 38 anos, moradora do Alto Gávea, foi surpreendida por uma ligação ontem à tarde, por volta das 12h30. Eram seus filhos de 12 e 9 anos, que chamavam a mãe à janela para que ela visse a passagem das tropas em direção à Rocinha. Impressionada com o aparato militar, Lorena dividiu-se entre a esperança de sentir-se segura e a apreensão. - Eram muitos carros, um blindado e uma ambulância com médicos. Logo depois, ouvi fogos de artifício e tiros. O Exército dá uma sensação de segurança, mas ao mesmo tempo não sabemos se as tropas estão preparadas para enfrentar o tráfico. A verdade é que nos últimos tempos estava tudo calmo, não nos sentíamos ameaçados. Agora, os tiroteios vão recomeçar e muita gente inocente pode morrer - afirmou a pedagoga, antes do final da ocupação.

Moradora da Barra, Maria Luiza Carbone, 23 anos, também temia que a ocupação dificultasse ainda mais as suas voltas para casa, à noite.

- Quando há uma ocupação, já fico imaginando que vai ter troca de tiro. Sempre que a favela é ocupada prefiro passar pela Niemeyer, que também não é uma boa opção. Mas não tenho para onde fugir - falou Maria Luiza, que trabalha na Zona Sul e volta sozinha diariamente para a Barra.

Muitos afirmam que a ação momentânea, por mais que reduza a criminalidade e a venda de drogas na região, não vai resolver os conflitos da favela, acirrados desde abril de 2004.

- A operação vai ocupar por um tempo e depois tudo volta ao normal. Eles estão ali fazendo uma ação pontual. Quando eles forem embora, a gente passa a esperar a próxima ocupação ou invasão - disse Ana Paula Ribeiro, 34 anos, moradora da Barra.