Título: Operação a 500 metros da Vila Militar
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, Rio, p. A9

Em dias normais, o bairro de Magalhães Bastos, Zona Oeste, é apenas passagem para veículos militares e ambiente de corridas matinais de pelotões em treinamento. Ontem pela manhã, a suspeita levantada por ligações anônimas sobre a localização dos 10 fuzis e uma pistola roubados levou 300 soldados e seis tanques ao bairro, numa operação na vizinha Favela Curral das Éguas, a cerca de 500 metros da Vila Militar de Deodoro. De acordo com o tenente-coronel Marcos Tadeu de Oliveira, do 1º Batalhão de Infantaria Motorizada, a guarnição foi checar a denúncia de que o armamento roubado do quartel de São Cristóvão estaria na favela. O lugar ficou ocupado por cinco horas, até as 13h. Quatro mandados de busca e apreensão deram amparo legal às incursões.

Durante a manhã, os soldados montaram guarda sobre lajes e entraram em becos. No Ciep Oswaldo Aranha, em Magalhães Barros, atiradores de elite tomaram posição sobre o terraço da escola com os alunos ainda nas salas de aula, mas aparentemente não provocaram pânico entre as crianças.

Oficiais contaram que era possível ouvir provocações de traficantes, possivelmente da Favela do Batan, ao lado da Curral das Éguas, em Realengo. De acordo com um soldado, os bandidos transmitiam para seus comparsas, por meio de radiostransmissores, informações sobre a movimentação das tropas e dos helicópteros do Exército, chamado pelos criminosos de ''besourões''.

- Estamos preparados para ouvir qualquer tipo de provocações. Enquanto os bandidos não usarem suas armas para nos atacarem, não reagiremos - afirmou o comandante Tadeu.

O tenente-coronel, com 28 anos de carreira no Exército, explicou que a força empregada na operação, inclusive com os blindados equipados com metralhadoras, serve mais para inibir os bandidos do que reagir a um ataque.

- Os blindados são usados para proteger nossos homens. Jamais iríamos disparar bala de canhão, como o que houve na Mangueira, contra a comunidade - explicou Tadeu.

O resultado da operação foi apenas a apreensão de cinco balas de fuzil escondidas em um muro da favela. Mesmo com a presença ostensiva, moradores de Magalhães Bastos não se queixavam da operação militar. Com asfalto de péssima qualidade e esgoto a céu aberto, reclamavam apenas da falta de serviços públicos na comunidade.

- Técnicos da prefeitura vêm aqui, mas o chão continua esburacado. Agora quem vem é o Exército. Mas acho que as Forças Armadas têm o direito de reagir quando são atacadas - disse o aposentado Irio Lopes, 71 anos, que sempre morou no bairro e trabalhou na fábrica de munições do Exército, em Realengo.