Título: Cerco aos suspeitos
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, Rio, p. A9

O Ministério Público Militar revelou, ontem, que as investigações do roubo de armas do Estabelecimento Central de Transportes (ECT) do Exército, em São Cristóvão, no dia 3, estão próximas de confirmar a participação de dois ex-militares no crime. Segundo o promotor Antonio Carlos Gomes Facuri, um cabo e um soldado que serviram na unidade participaram diretamente do planejamento e da execução do assalto. - É quase certa a participação desses dois ex-militares - afirmou o promotor, que vem acompanhando as investigações do Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar o caso.

Ele contou que desde o início as investigações trabalhavam com a informação de que ex-militares teriam participado do roubo dos 10 fuzis e uma pistola 9mm. Pela ação do grupo, que conhecia com precisão detalhes das instalações do ECT, os investigadores passaram a considerar o envolvimento dos dois ex-integrantes da unidade assaltada.

- Até aqui, as investigações estão caminhando bem. Em breve teremos resultados - garantiu Antonio Facuri.

O modo de agir da quadrilha também colocou como suspeito um oficial do próprio ECT. O promotor não quis comentar sobre a possível participação do oficial. Para um agente integrante das investigações, o militar teria sido um dos mentores do roubo. Sua função, de acordo com esse agente, foi elaborar um mapa com detalhes do ECT e ter facilitado a entrada do bando na unidade.

Na operação do Exército na Rocinha, ontem, um dos objetivos era a entrega de intimações a ex-militares para prestar depoimento no IPM. A informação foi confirmada pelo relações-públicas do Comando Militar do Leste (CML), coronel Fernando Lemos. Até o momento, de acordo com o CML, mais de 15 militares já foram ouvidos no inquérito.

Em entrevista coletiva à imprensa, realizada na segunda-feira, o chefe do Estado-Maior do CML, general Hélio Chagas de Macedo Júnior, não quis comentar a possibilidade de militares do Estabelecimento Central de Transportes estarem envolvidos no crime. O oficial apenas limitou-se a confirmar que todos os militares que estavam de plantão no dia do assalto estão prestando depoimento. De acordo com ele, outros integrantes que servem na unidade, mas não estavam de serviço, também seriam ouvidos.

Na entrevista, o general Macedo reconheceu que a invasão ao ECT e o roubo dos 10 fuzis e uma pistola desgastam a imagem do Exército.

- Um roubo como esse, realmente, não é bom para a nossa instituição. Desgasta porque foi dentro de uma unidade militar - afirmou o general Macedo, com ar constrangido.

A imagem do Exército vem sendo arranhada por seguidas invasões à unidades nos últimos anos. Nem o Forte de Copacabana, parte da paisagem carioca, escapou da ação dos bandidos. Em 2004, três fuzis da unidade foram roubados. As armas foram recuperadas depois de três dias de buscas no Morro do Vidigal, em São Conrado.