Título: Americanos avisaram israelenses
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, Internacional, p. A14
Embora os americanos neguem ter auxiliado diretamente a invasão israelense, a operação contra a prisão estava sendo preparada há semanas, desde que os EUA informaram ao governo de Jerusalém de que os monitores estrangeiros já faziam as malas para sair da penitenciária. A Casa Branca enviou às autoridades do Estado judeu a cópia de uma carta enviada ao presidente da ANP, Mahmoud Abbas. Na correspondência, datada de 8 de março último, Abbas é advertido de que os monitores seriam retirados caso as condições de segurança na cadeia não fossem melhoradas.
O general Yair Naveh afirma que não houve coordenação entre Israel, Estados Unidos e Grã-Bretanha na ação. Mas confirmou que a preparação demorou pelo menos três semanas. Nesse período, os militares montaram uma linha de vigilância e posicionaram discretamente as tropas, de forma a poder lançar o assalto no menor espaço de tempo possível. de fato, apenas 20 minutos transcorreram entre a saída dos monitores e o ataque.
Na carta a Abbas, americanos e britânicos avisam a Abbas que a retirada, se fosse efetivada ''traria efeitos imediatos''. O texto igualmente expressava as preocupações com uma eventual libertação de Saadat e dizia que os ''sucessivas declarações em favor da libertação dos presos de Jericó por parte do Hamas minavam a sustentabilidade da missão de monitoramento''. Os observadores britânicos atuavam na prisão em função de um acordo internacional estabelecido em 2002 entre Israel e ANP, sob intermediação dos EUA.
Enquanto o cerco transcorria, as ruas das cidades palestinas começavam a ferver. Durante todo o dia, milhares de pessoas protestaram em Gaza e na Cisjordânia em passeatas organizadas em resposta à invasão e à captura do líder da FPLP. A maior manifestação foi convocada em Gaza pelo Hamas e reuniu 20 mil pessoas. A ação conseguiu unir as facções rivais em torno da FPLP. Khaled Meshaal, líder do Hamas, aconselhou Israel a não ferir Saadat. O grupo deve formar o próximo governo palestino depois de ter vencido as eleições gerais de 25 de janeiro.
Em outro desdobramento, os observadores europeus que atuam na passagem fronteiriça de Rafah, fronteira entre Gaza e Egito, abandonaram o local uma hora antes do habitual, frente ao temor de ser alvo de ataques palestinos.