Título: Palestinos reagem com seqüestros
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, Internacional, p. A14

Irritados com o fato de os soldados americanos e britânicos terem levantado guarda da frente da prisão em Jericó, abrindo caminho ao Exército israelense, homens armados seqüestraram 10 pessoas, sendo nove estrangeiros, na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Dois australianos, um professor americano e um empregado suíço do Comitê Internacional da Cruz Vermelha foram soltos durante o dia. Duas francesas, à noite.

As reféns libertadas são funcionárias da organização humanitária Médicos do Mundo (MDM). Foram tomadas refém por um grupo que se denomina ''Brigadas Che Guevara''. A Jihad Islâmica e as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa assumiram os demais seqüestros.

Dois franceses permanecem em cativeiro: a repórter da revista Elle, Caroline Laurent, e Alfred Yaghobzadeh, fotógrafo da agência Sipa. Eles foram levados do hotel Al Deira de Gaza, assim como um jornalista sul-coreano, não-identificado.

- Exigimos a libertação imediata dos reféns - reagiu o chanceler de Paris, Philippe Douste-Blazy.

Uma greve geral foi convocada para hoje nos territórios palestinos. Assim como os grupos extremistas, o governo mostrou-se irritado e acusou os Estados Unidos e a Grã-Bretanha de violarem o acordo assinado em 2002 entre a ANP e Israel, que prevê o uso dos soldados estrangeiros para vigiar a detenção.

Washington e Londres se explicaram. Disseram que haviam avisado ao presidente Mahmoud Abbas da intenção de retirar seus recrutas do local.

- Em última instância, a segurança de nosso pessoal deve ter preferência - afirmou o secretário de Relações Exteriores britânico, Jack Straw.

O problema, indica o líder palestino, foi a retirada ter ocorrido justamente antes da ação israelense.

- Não se deve castigar um povo por ter escolhido o caminho democrático e ter realizado essa eleição - provocou Abbas.

A ONU - promotora do Mapa do Caminho junto com os EUA, a Rússia e a União Européia - pediu o fim da violência. E realizou ontem uma reunião de urgência do Conselho de Segurança, convocada pelo Qatar - membro-não permanente do conselho desde janeiro.

- Deve haver respeito à vida dos civis - disse o secretário-geral, Kofi Annan.

A UE retirou seus cidadãos de Gaza e da Cisjordânia.

- Estamos muito preocupados com a deterioração da segurança - afirmou o alto representante para a política externa do bloco, Javier Solana.

Na cidade de Gaza, um centro cultural britânico e a representação diplomática foram atacados por civis enfurecidos.

Apesar de ter tido um funcionário seqüestrado, a Cruz Vermelha Internacional afirmou que não deixará de trabalhar em Gaza e na Cisjordânia.